Autor

Homem-Aranha

 

Data

21 de Outubro de 1976

 

Secção

Mistério... Policiário [84]

 

Publicação

Mundo de Aventuras [160]

 

 

Solução de:

UM CRIME IMPERFEITO

Homem-Aranha

 

1 – Depois de reparar que os vidros partidos estavam «dentro de casa», como se vê na figura 3, fácil seria deduzir: vidro partido de «fora para dentro», não condizente com a declaração do mordomo.

2 – Depois de adormecer com clorofórmio o Carlos Martins, o mordomo Luís Silva corre para o jardim e aí mata João Costa… Chega-se junto da janela, partindo o vidro «do lado de fora», entrando depois e depositando a arma na mão de Carlos que estava ainda adormecido… Espera do lado de fora da sala que este acorde e entra de repente, acusando-o do crime.

 

 

COMENTÁRIO por Félix da Picota

 

A análise incidirá sobre dois aspectos: A) O problema policiário em si; e B) A sua concepção e apresentação na sequência dos seis «quadrinhos».

A) A principal crítica a fazer é a falta de originalidade. Já vi este problema do vidro da janela partido (e os cacos no chão, do lado errado), por muitas vezes, incluindo em enigmas desenhados. Deduz-se que J. Costa estava no jardim, onde o mordomo lhe teria ido servir uma bebida. Mas foi primeiro anestesiar Carlos Martins, depois matou o patrão com um tiro nas costas e partiu o vidro da janela para simular que o disparo proviera da sala – mas esqueceu que os vidros, no chão desta, atestavam o contrário. Foi também um erro pôr a pistola na mão do Carlos Martins, pois os testes habituais indicariam que este não a tinha disparado.

B) A sequência da narração nos seis desenhos está bem imaginada, e eles mostram o essencial. Mas os desenhos propriamente ditos e a sua apresentação estão «por dentais… sobre o joelho», como diz o «Sete». E é curioso notar que os dois quadrinhos mais conseguidos são os que habitualmente maiores dificuldades trariam: o 4.o e o 6.o, com os dois grandes-planos do Carlos Martins e do inspector. E o pior deles é precisamente o que deveria ser de mais fácil execução, o mais simples, o único em que não aparece a figura humana: o 3.o, que é, afinal, o da «chave». O desenho da janela é primário, sem o cuidado que se requeria (o que não se coaduna com o desenho das molduras dos quadros, por exemplo) e os cacos do vidro estão um pouco «mastigados», nomeadamente quando o próprio chão e as paredes são representados também com riscos de vária ordem. Há ainda uma excessiva rigidez em toda a composição, reforçada pelos «balões» angulosos. Repare-se, até, no 1.o quadrado, com a inconveniente posição central do inspector, que parece… ter engulido uma vassoura!

Em conclusão, é mais uma experiência com méritos inegáveis – até por ser mais uma de muito poucas. O Homem-Aranha denota qualidades que podem e devem ser aproveitadas. E pode e deve prosseguir. Se me são permitidas sugestões - que não conselhos - dir-lhe-ei que experimente de novo, com ideias novas. Se estas não lhe surgirem, que tente colaboração com algum amigo também dado a estas «coisas», que lhe forneça as ideias e seja também o seu primeiro e impiedoso crítico. Outra sugestão é a consulta e o estudo de um dos vários livros que existem sobre a composição de histórias em quadrinhos, os quais lhe ensinarão regras simples que pode facilmente seguir. Quanto ao desenho em si, muito ESTUDO, muita paciência, muita aplicação. E não esquecer que, como dizia Aristóteles, é a tocar harpa que se aprende a tocar harpa!...

© DANIEL FALCÃO