Autor Data 29 de Março de 1976 Secção Sábado Policiário [18] Competição 1º
Torneio de Problemística (Sábado Policiário) 3º Problema Publicação Diário Popular |
MEMÓRIAS DE UM GUARDA DE PRISÃO Homem Aranha Já
estou aposentado mas a vida que passei como guarda de prisão ficou marcada em
mim. Muitas vezes a recordo e dos vários momentos e casos que tive, um deles,
é o que mais à memória me vem, foi quando tive sob as minhas ordens cinco
detidos que foram para mim companheiros, e porque não? amigos,
durante os anos que estiveram presos. Mas deixem-me contar-lhes alguns
episódios desses tempos. Uma
vez, estava entretido a jogar uma partida de xadrez com o Delfim, quando, de
repente, aparece o «Careta» apavorado porque o violador estava numa acesa
discussão com o homicida. Rapidamente me dirigi ao local mas, quando lá
cheguei, já o «Gato» estava a tentar acalmá-los. O «Pinta» chegou logo a
seguir e dirigiu-se ao «Sombra» a perguntar-lhe o porquê da discussão, felizmente,
e após um peque-mo diálogo, já mais calmo, tudo ficou bem. O
Pedro, muitas vezes me contou que o Nazaré não gostava lá muito do
«Mauzinho», o que ele discordava, pois o mais antipático, para ele e para o
«Pinta», era o ladrão de automóveis. O
«Gato» e o violador, que não gostavam de jogar xadrez, costumavam passar o
tempo a jogar às cartas com o «Mauzinho» que também detestava o xadrez. O Rosa, que estava na
cela a seguir à do ladrão de bancos, passava muito tempo a ler e muitas vezes
emprestava livros ao fraticida que, quando os
acabava de ler, por sua vez os emprestava ao Armando. O
«Sombra», ou melhor, o Pedro, tinha muitas vezes crises, o que o levava a
ficar sozinho na sua cela, durante largo período de tempo. Todos
os dias cumpria o mesmo ritual, que nunca mudei, para abrir as celas, a
primeira era a do «Gato», a seguir a do Rosa, depois
a do «Careta», em seguida a do violador e por último a do Delfim. Quando
o ladrão de automóveis saiu em liberdade, notei em todos um sentimento de
tristeza; ao Rosa e ao «Pinta» até lhes vieram as
lágrimas aos olhos; o Nazaré e o «Sombra» desejaram-lhe boa sorte e mais
juízo para não se meter noutra. Mas,
para que estou eu a recordar a minha vida, se para vocês não tem interesse e
além disso, estou a roubar o vosso tempo. Pergunto: Será
capaz, caro leitor, de, depois de ler o texto, dizer quais as alcunhas e crimes cometidos pelos cinco detidos, assim como os seus
verdadeiros nomes? |
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© DANIEL FALCÃO |
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