Autor

I. F.

 

Data

17 de Fevereiro de 2013

 

Secção

Policiário [1124]

 

Competição

Campeonato Nacional e Taça de Portugal – 2013

Prova nº 1 (Parte II)

 

Publicação

Público

 

 

UMA FESTA DE ARROMBA!

I. F.

 

– Responda, senhor A, tem de me dar respostas…

– A festa tinha sido de arromba e não sabíamos muito bem onde estávamos ou o que tínhamos andado a fazer… Compreende, era um dia especial em que todos entrávamos num ano especial. Toda a gente dizia e parece que era verdade, que o século e o milénio só iriam virar no ano seguinte, mas, que diabo, fosse como fosse, viravam-se todos os algarismos naquele dia, naquele segundo exacto!

– Eu até posso compreender isso, acho normal que se festejasse, mas nada justifica a vossa atitude perante o que se passou. O que eu quero saber é quem estava presente no momento em que aconteceu o incidente.

– Não estou certo. Não me lembro lá muito bem…

– Mas você estava no local, ou não?

– Estava… Isto é, penso que sim… Sabe, os copos…

O agente Maduro saiu da sala, já um tanto irritado com o que se passava. Isto de andar a perguntar coisas com anos de atraso, nem parecia coisa de gente. Um incidente tão distante e ainda andava por ali a pairar…

– Senhor B, isto parece um pouco estranho, mas tenho de lhe perguntar de novo o que se passou nessa noite, o que viu, quem estava presente, quem foi o autor material, enfim, tudo!

– Senhor agente, não tenho a mínima ideia! Não me lembro de nada dessa noite, olhe, foi uma noite de folia, uma noite única, que nenhum de nós voltará a passar, não é verdade? Todos bebemos e comemos em força e já nem me lembro de sair do bar, quanto mais o que se passou cá fora… E depois estive dois dias a dormir…

– Menina C, quer fazer o favor de esclarecer o que se passou nessa noite?

– Ora, senhor agente, o que é que se podia ter passado? Estávamos todos a festejar em grande, quando aquilo aconteceu. Lembro-me perfeitamente que nenhum de nós teve nada que ver com isso, absolutamente nada. Estávamos a festejar, mais nada, mas um grupo provocou-nos e, para evitar males maiores, eu mesma empurrei os meus amigos para dentro do bar, para não haver chatices. O que aconteceu depois, não sei, nem os meus amigos, porque estávamos lá dentro e isso parece que aconteceu lá fora, não foi?

– A menina parece que se lembra de tudo muito bem…

– Pudera, nessa altura eu andava um bocado mal, com uma infeção e estava a tomar antibióticos, por isso não podia beber álcool. Acabei por ser eu quem controlei tudo e levei os meus amigos a casa.

– E dentro do bar, o que aconteceu?

– Dentro do bar, nada. Bebemos um copo, estacionámos por lá algum tempo para deixar passar a tempestade que se levantou na rua…

– Tempestade?

– Em sentido figurado, senhor agente, queria dizer, a complicação, a chatice, entende?

– Sim, sim, continue…

– Não houve mais nada. Paguei a conta, o que foi mais uma complicação porque o bar não tinha multibanco e tive de andar a vasculhar as carteiras dos meus amigos à procura dos euros para pagar aquilo… Mas lá consegui.

– Senhor D, não me vai dizer que não se lembra de nada dessa noite, pois não?

– Não, senhor agente, lembro-me perfeitamente que não se passou nada de especial. Entrámos e saímos de bares e bares, bebemos e comemos, foi tudo excelente. Só há uma noite assim, numa vida.

– E depois?

– Depois, nada! Acordei em casa, muito mais tarde, com uma dor de cabeça terrível e sem sequer saber como lá cheguei. Depois contaram-me que foi a C que nos andou a entregar em casa, porque ela não podia beber álcool por causa de uns medicamentos que estava a tomar.

– Não houve incidentes?

– Nada que me lembre.

O agente Maduro percebeu que havia ali uma grande mentira, mas não queria maçar-se demais com um caso corriqueiro e ridículo que um chefe queria que se esclarecesse passado tanto tempo.

Ele sabia que o chefe ainda tinha uma pedra no sapato por ter apanhado uma “galheta” naquela noite, mas a verdade é que, conhecendo-o tão bem como ele o conhecia, apostava que tinha sido merecida. Ora abóbora, abençoada “galheta”…

O agente percebeu onde estava a mentira e os nossos “detetives” também, pela certa!

Ora digam lá então quem a cometeu:

 

A – O senhor A porque ninguém podia estar num estado em que não se lembrasse de nada - estava a mentir;

B – O senhor B porque revela que não se lembra sequer de sair do bar, mas sabe que se passou alguma coisa cá fora, pelo que estava a mentir também;

C – A Menina C porque se lembra de tudo tão bem, mas mente naquilo que diz;

D – O senhor D porque se lembra de tudo, de entrar e sair de bares, de comer e beber, e portanto tinha de saber o que se passou, pelo que é um grande mentiroso.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO