Autor Data 27 de Janeiro de 2008 Secção Policiário [862] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2007/2008 Prova nº 2 Publicação Público |
Solução de: SMALUCO EM LONDRES Inspector Boavida A
investigação policial a que se reporta o enigma proposto pelo inspector Boavida e pelo seu alter-ego Smaluco não passa de uma mera representação teatral. São,
aliás, inúmeras e evidentes as pistas que nos levam a essa conclusão, se
fizermos uma leitura atenta do texto. Vejamos: João
Horta era Orton para os amigos, em homenagem ao
dramaturgo inglês premiado pelos órgãos de comunicação social britânicos Evening Standard e Plays and Players em 1967, ano em que
este foi assassinado pelo seu companheiro Kenneth Halliwell.
Falamos de John (Joe) Orton, portanto! Loot, Entertaining Mr. Sloane e What the Butler Saw
foram as três peças que constituíram uma retrospectiva
da obra de Joe Orton realizada nos meses de Junho e
Julho de 1975, no Royal Court (Theatre),
período em que Smaluco e João Horta (Orton) estagiaram em Londres, na Scotland
Yard. No
dia em que o detective Smaluco
chegou ao Royal Court mesmo em cima da hora
combinada, às oito (da noite), e sentou-se depois de entrar na Sala
afogueado…, ia assistir a um espectáculo de teatro,
claro! Orton (João Horta) entregou-lhe uma brochura
para a mão. Era o programa/catálogo da peça: Loot. Ao
dizer-se que, “por força das palavras de John Orton,
o inspector Truscott
acabou por ficar muito mal na fotografia”, é óbvio que se está a falar da
peça Loot do dramaturgo Joe Orton,
cuja trama põe em causa os princípios éticos, os métodos de investigação e a
honestidade moral daquele personagem. Quando
se diz que “Orton segredou: o dinheiro está na
urna”, revela-se que estamos perante um comentário feito por João Horta a Smaluco, em surdina, para não incomodar os restantes
espectadores. E quando se diz que a cortina correu sobre o acontecimento, não
se pode ser mais claro: tinha acabado o espectáculo! A
investigação policial descrita no enigma em análise pode ler-se na íntegra, e
em português, graças às editoras Cotovia e à Campo das Letras, que publicaram
recentemente em livro o texto Saque, o/a (Loot),
com tradução de Manuel João Gomes e Luísa Costa Gomes, respectivamente. Foi
um destes livros que Smaluco comprou antes de
partir para Londres. A edição daquele texto em língua portuguesa facilita os
grupos de teatro profissionais, semiprofissionais ou amadores do espaço
lusófono, com mais ou menos meios, a promoverem a sua reprodução (réplica!)
em cena. Se
forem respeitados diversos procedimentos, nomeadamente o acordo dos
representantes legais do autor do texto e do respectivo
tradutor, bem como a obtenção de licença junto da entidade oficial que
fiscaliza e autoriza a realização de espectáculos
públicos, a representação daquela obra não é punível por lei. E
pronto, após algumas semanas de descanso em Londres, Smaluco
deixa aqui a prometida explicação aos leitores do jornal PÚBLICO sobre este
intrigante enigma, que parte de crimes ficcionados para trazer à colação um
outro crime bem real e que muita gente parece ignorar: o desrespeito pela
propriedade intelectual! |
© DANIEL FALCÃO |
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