Autor Data 9 de Abril de 2017 Secção Policiário [1340] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2017 Prova nº 3 (Parte II) Publicação Público |
O SUBCHEFE PINGUINHAS NO POSTO DE TURISMO Inspector Boavida Com
o encerramento da esquadra onde prestava serviço, na baixa de Lisboa, o
subchefe Pinguinhas foi destacado no início do ano para um posto de apoio aos
turistas que nesta altura enxameiam a cidade. Quatro deles entraram um dia
destes esbaforidos no posto, ao início da noite, aos gritos uns com os
outros, expressando-se nos seus respetivos idiomas: turco, somali, curdo e
romeno. Nem eles se entendiam, quanto mais o pessoal do posto, que procurava
em vão perceber o motivo da refrega. A muito custo, Pinguinhas conseguiu
entender que o pomo da discórdia era uma carteira, contendo três mil euros,
que o turco tinha na mão e que os outros três reclamavam também como sua. Para
além do dinheiro, em notas de cinquenta, vinte, dez e cinco euros, a carteira
continha alguns papéis (faturas de cafés emitidas sem nome ou número de
contribuinte, uma fração da lotaria clássica para o sorteio do dia seguinte,
um talão de registo do euromilhões para terça-feira e um bilhete para a
próxima sessão do espetáculo em cena no Teatro Nacional D. Maria II), mas
nada de passaporte ou qualquer outro documento que pudesse identificar o seu
proprietário. O subchefe Pinguinhas não desarmou e desatou a fazer perguntas
num inglês pausado e acompanhado de largos e repetitivos gestos, que eles se
esforçavam por entender de testa franzida e olhares interrogadores. Através
deste processo, ficou a saber-se que o cidadão romeno está em Lisboa há cinco
dias, o somali e o curdo há quatro, enquanto o turco chegara na manhã da
antevéspera. Soube-se também que, curiosamente, estão todos alojados no mesmo
local, razão por que Pinguinhas se dirigiu de imediato para lá. No hostel,
depois de conferir os passaportes dos quatro, tomou conhecimento de que todos
reservaram alojamento por seis noites, partindo imediatamente no dia seguinte
cada um deles para outra cidade europeia, por via aérea: o turco a início da
manhã, rumo a Paris; o romeno ao fim da manhã, com destino a Praga; o curdo e
o somali a meio da tarde, em direção a Londres. Com
a preciosa ajuda do rececionista do hostel, que entendia o mais básico das
línguas nativas dos quatro turistas desavindos, o subchefe Pinguinhas
conseguiu perceber que o início da contenda se verificou na entrada para a
composição do metro na estação dos Restauradores, quando à frente deles caiu
a carteira a que todos deitaram a mão, tendo o turco sido o mais hábil na
disputa pela sua posse. A discussão, em altos berros, numa polifonia de
idiomas, começara nesse momento, com todos a reclamarem como sua a carteira
que se abrira literalmente perante todos com as várias notas de euro expostas
pelo chão da plataforma. Exatamente três mil euros, ali contados a olho nu! O
subchefe Pinguinhas ainda pensou em perguntar a cada um dos turistas onde
ficam os cafés que emitiram as faturas que estavam na carteira e a que
serviços se reportavam, ou onde foi comprada a fração da lotaria e feito o
registo da aposta do euromilhões, mas não o fez por dificuldade de
comunicação. De qualquer maneira, embora não deixasse de fazer essa e outras
diligências no dia seguinte de manhã bem cedo, com o apoio de um intérprete
das várias línguas em presença, considerou que tal não seria necessário para
saber a qual deles podia pertencer a carteira. Ou seja, depois de juntar
todas as peças do caso, ele concluiu que o proprietário da carteira podia
ser: A
– o romeno; B
– o turco; C
– o somali; D – o curdo. |
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© DANIEL FALCÃO |
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