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Autor Data 19 de Agosto de 2007 Secção Policiário [840] Publicação Público |
O INSPECTOR FIDALGO DESVENDA O CRIME Inspector Fidalgo Estava um daqueles dias aborrecidos, pastosos, complicados, em que nada
apetece fazer. O céu estava bem carregado e havia tempestade no ar. O Inspector Fidalgo detestava esses dias. Por sua vontade
deitava-se a dormir, numa inconsciência total, alheado de tudo e de todos… Só
que o crime espreita em cada esquina e foi assim que lhe comunicaram que o
famoso financeiro Antero Bilardo aparecera morto,
em sua casa, em circunstâncias bastante estranhas. Crime, ao que tudo
indicava, mas tornava-se necessária a sua presença, por via das dúvidas… A casa era verdadeiramente espantosa e a sobriedade misturada com um
requinte exótico transformava aquele ambiente num misterioso quadro digno das
mil e uma noites. O frio intenso que se fazia sentir no interior do
escritório contrastava com o calor abafado e doentio que andava à solta nas
ruas. No chão, bem perto da janela escancarada, jazia o corpo da vítima,
deitado de costas, com os olhos azuis fitando o branco do teto. No peito, lá
estava a marca produzida pela arma da morte, um punhal de cabo prateado, que
estava abandonado no outro extremo do compartimento. O inspetor olhou para os presentes, aguardando algum sinal que o pusesse
na rota certa. E ouviu: – Senhor inspetor, eu sou o primo do Antero, chamo-me Afonso e tenho
alguma coisa a contar-lhe, mas gostaria que fosse em privado… Retiraram-se para um canto… – Eu fui o primeiro a chegar ao escritório, onde ia falar com o meu primo
de uns projetos de negócio em que ando embrenhado… Ia pedir-lhe uma opinião e
também, porque não confessá-lo, um financiamento! Só que não tive tempo… Ao
chegar, ele já estava morto… O assassino deve ter entrado pela janela e
matou-o. O que ele não sabe é que o meu primo deixou um sinal… – Um sinal? Que sinal? Não notei nada de especial… – Claro que não porque eu apaguei-o para não espantar o assassino… Sabe,
o meu primo tem sempre a mania de estar com a janela aberta de par em par e,
como é um andar térreo, sujeitava-se ao que aconteceu… Mas o que o assassino
não sabe é que ele não morreu logo… Viu onde estava o punhal? O meu primo
arrastou-se até junto da janela e escreveu no embaciado do vidro o nome do
criminoso… – Estranha história… – Eu sei, mas é a verdade. Está aqui a prova, nesta máquina fotográfica
com que fotografei o vidro embaciado e o nome do criminoso… – Vejo que já revelou o rolo… – Sim, é verdade… Leia só… – ADRIANO… Quem é o Adriano? – É o secretário do meu primo… Ou melhor, era. O Adriano metia os pés pelas mãos, não sabia o que tinha feito em
determinadas horas, não sabia dizer a que horas tinha estado pela última vez
com a vítima, mostrava-se, em suma, baralhado e assustado. – Senhor inspetor, não sei de nada… Eu não tinha nada a ganhar com a
morte do meu patrão… Nada! Não me lembro das horas porque aqui perdemos a
noção do tempo, não temos horários a cumprir, nada!... Sim, é verdade, que o
patrão estava sempre com a janela escancarada e hoje mesmo, de manhãzinha,
quando vim do mercado, notei a janela aberta e vi o vulto do patrão a
trabalhar… Também o Silveira, o carteiro, confirmou que pelas 9 horas da manhã,
quando passou, ele estava vivo e bem vivo, porque lhe entregou a
correspondência em mão, pela janela, tendo estado até um pouco à conversa. O resultado laboratorial apontou a hora da morte para as 11 horas e o
Inspetor Fidalgo meditava… A – O assassino foi o carteiro, talvez farto de entregar a
correspondência numa casa tão isolada. B – O assassino foi o Afonso porque inventou toda a história e simulou o
sinal no embaciado do vidro. C – O assassino foi o Adriano, denunciado a tempo pelo patrão ao escrever
o seu nome no embaciado do vidro. D – Não houve crime, mas apenas e só suicídio, talvez por estar farto da
vida de escravo que levava ou por os negócios não estarem tão bem como
desejaria. |
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© DANIEL FALCÃO |
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