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Autor Data 2 de Setembro de 2007 Secção Policiário
[842] Publicação Público |
O INSPECTOR FIDALGO E O JOGO DE
BASQUETEBOL Inspector Fidalgo Era um dia como outro qualquer, com sol e calor,
mas, para o inspector Fidalgo, havia alguma coisa de diferente no ar. Era o grande
dia do seu sobrinho, um rapagão de quase dois metros de altura, que jogava aí
mesmo… Nas alturas! Naquela terra pequena, o clube de basquetebol era uma
espécie de instituição, fazendo convergir ao pavilhão verdadeiras multidões,
tendo em consideração, naturalmente, a dimensão da terra. E era o grande dia porque o jogo que iam disputar
teria honras de transmissão pela televisão, em directo!
Daí a grande azáfama e o grande nervoso que a todos atacava, desde os
jogadores aos técnicos e público em geral. O puto, o sobrinho do inspector, era dos principais influenciados,
negativamente, claro, e era mais do que usual falhar rotundamente nos momentos
mais cruciais de cada jogo ou competição. No fundo, talvez ninguém
acreditasse nele como jogador de futuro, ainda que todos lhe reconhecessem
valor de sobra para estar num bom clube… A cabeça… À frente da televisão, o inspector Fidalgo ia
delirando com os principais lances e, embora achasse que o sobrinho não
estava brilhante, longe disso, a verdade é que também não estava desastrado
de todo! Mas a carga psicológica foi fazendo das suas e, a
pouco e pouco, a sua equipa estava a perder o avanço que fora angariando. E
foi quase sem surpresa para ninguém que, a cinco segundos do final, a equipa
do seu sobrinho perdia por três pontos, tornando quase impossível a
recuperação. Cinco segundos para terminar, o sobrinho com a bola
nas mãos e… Um enorme estrondo desvia a atenção do inspector
do seu receptor, correndo em direcção
à janela, a tempo de observar que um tipo qualquer está a tentar assaltar uma
senhora, tendo disparado para o ar, na tentativa de assustar as pessoas que
se juntaram… O inspector sabe como agir
nestas circunstâncias e uma meia hora depois tudo estava arrumado e
resolvido, com o meliante preso e o conflito sanado… Mas o Inspector Fidalgo ficou sem o fim do jogo, mais do que
previsivelmente ganho pelos adversários do seu sobrinho. Foi então que o telefone soou e, do outro lado, uma
voz eufórica anunciava o impossível… – Ganhámos, tio… Viu o
jogo? Viu bem a minha jogada final… – Não pude ver, pá, estive ocupado…
Conta lá o que aconteceu nos cinco segundos finais, que foi o que não
consegui ver… – Ora, tio, foram todos meus… Ninguém pôs a mão na
bola, nem da minha equipa nem dos outros, apenas houve um jogador a tocar na
bola: EU! Estás a ouvir, tio, foi a minha noite!... – A quantos pontos estavam do adversário? – Estávamos a três pontos deles e sem que mais
ninguém tocasse na bola, estás a ouvir, sem que mais nenhum jogador pusesse
um só dedo na bola… Este menino, zás, virou o resultado e ganhámos por um
ponto!... – Mas… Estás a brincar
comigo… Como é que podias fazer… – Desculpa, tio, mas não posso estar com mais
explicações; telefonei-te porque sempre me deste o teu apoio, mesmo quando eu
falhava totalmente… Agora, neste momento de euforia, vou sair com a Sandrinha… Sabes, a moça de quem sempre gostei e que não me passava
cartão… Não há dúvidas, triunfar é meio caminho para outras vitórias… Estás a entender… Adeus tio… – Mas… Adeus… O inspector estava
siderado… O puto estava, certamente a “pintar”, mas
para quê? Para enganar quem? A – O puto “pintou” a história ao saber que o tio
não vira o jogo até ao fim, porque a jogada que afirma ter executado não era
possível. B – Pode ter executado a jogada, mas nunca somaria
os pontos suficientes para ganhar a partida. C – Pode ter executado a jogada e ganho o jogo,
porque isso era possível e viável. D – Mentiu descaradamente, porque em cinco segundos
não se pode anular três pontos de diferença, ganhando a partida sem
prolongamento, sem que a bola passe pelo menos pelas mãos de um adversário.
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© DANIEL FALCÃO |
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