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Autor Data 1 de Dezembro de 2025 Competição Torneio do Cinquentenário de
“Mistério… Policiário” Problema nº 12 Publicação Blogue Momento do Policiário |
O ROUBO DOS DIAMANTES Inspector Pevides O inspector Lourenço levantou-se nesse dia um pouco zonzo.
Na noite anterior havia cometido alguns excessos quer na comida quer na
bebida. – Dias, não são
dias! Pensava entre dentes. Bem. Entre
dentes não se pensa, mas… O facto é que
os copos tinham produzido um efeito que não lhe trazia grande lucidez. Ligou a rádio,
a telefonia que nunca dispensava e o noticiário lá ia arengando as últimas: “O novo filme de Charlie Chaplin, Luzes da
Ribalta espera-se que estreie em breve …” “Baptista Pereira (não sei quê…) um recorde
de permanência…” “Houve ontem um terramoto na Califórnia que
provocou doze mortos…” “Os Jogos Olímpicos continuam e Zátopek é favorito às medalhas que aliás já ganhou em
jogos anteriores.” Enquanto
escutava, iniciou as rotinas habituais: higiene, pequeno-almoço, etc… O telefone
retiniu: – Lourenço? Resmungou entre
dentes (agora já foi bem aplicado) – quem havia de ser? Ouviu o recado
urgente. Tinha de ir a Évora tratar de um caso de roubo. Continuou a
resmungar. Não gostava do nome que lhe tinham dado. Mania dos antigos de dar
o nome do santo do dia! Quarenta anos feitos ontem. Daí os copos a mais … bom, vamos à vida. De Lisboa a
Évora era viagem longa e cheia de peripécias naqueles tempos. O agente
Mértola foi quem conduziu a viatura policial. Apesar de tudo chegaram a tempo
de almoçar e pouco depois já interrogavam a presumível vítima do roubo. Era um sujeito
estranho, de má catadura, semblante fechado e mal disposto, que vivia num
casarão isolado e rodeado de criadagem que, habitualmente lhe servia também
de guarda-costas ou seguranças como se queira entender. Dedicava-se ao
comércio (legal) de diamantes. Tudo fiscalizado e de contas em dia.
Limitava-se a comprar e a vender. Apurou-se que
era uma referência, um “expert” no assunto e depois
de interrogado, limitou-se a descrever o assalto de que tinha sido alvo. Falou então: Ontem à noite,
estava a escolher pedras a fim de lhes fixar preço, quando dois homens
entraram subitamente no meu gabinete. Logo por azar tinha dado folga aos meus
criados mais decididos. Ficou apenas um velhote que já dormia e não deu por
nada. Os homens
vinham com a cara tapada. Barretes negros esburacados no sítio dos olhos e
armados de caçadeiras. Confesso que me assustei e não consegui reagir. Levaram todas
as pedras que estavam, felizmente, no seguro por 320 contos de réis. No
entanto, depois de as analisar, considerei o seu valor em pelo menos 400. Quando saíram,
espreitei pela janela e vi-os de roupas escuras dirigirem-se para um
automóvel azul-escuro, tipo americano, grande banheira, talvez Dodge ou Pontiac. A noite estava estrelada e limpa e o
luar ajudou-me a distinguir estes pormenores. Fim de
depoimento. As peritagens
que foram mais tarde efectuadas,
mostraram que havia marcas de dois pares de botas de sola de borracha em
ambas direcções do percurso entre os sulcos de
pneus acerca de cinquenta metros da casa e o gabinete. Os acessos de terra
batida ajudavam a imprimir vestígios quer das botas quer dos pneus. O rasto dos
pneumáticos do referido automóvel, apesar de misturados com outros, puderam
ser identificados, mas perdiam-se ao entrar na estrada alcatroada. Impossível
saber para onde se dirigiam. Perguntas: – Roubo real ou
simulado? – Justifique. |
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© DANIEL FALCÃO |
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