Autor Data 19 de Fevereiro de 1981 Secção Mistério... Policiário [301] Competição Torneio
“Dos Reis ao S. Pedro” Problema nº 3 Publicação Mundo de Aventuras [384] |
O ENIGMA DA CARTEIRA Inspector Soraya O
rápido do Porto corria veloz sobre a sua «estrada de ferro», querendo chegar
a Lisboa à tabela… Num dos compartimentos iam três homens, verdadeiros tipos
de negociantes. Um, o mais velho (pelo menos na aparência…), vinha do Porto;
o mais novo (também aparentemente…), de Coimbra; e o que parecia ser o do
meio em idade, tinha embarcado em Santarém. Era
este, apesar do seu trajecto ser o mais curto, o
que dormitava quase encostado à porta que dava para o corredor da carruagem. À
sua frente, ligeiramente para a sua esquerda, vinha o passageiro do Porto. Na
janela, ora de pé, ora sentado de frente para a marcha, ora de costas para a
mesma, admirando a paisagem que crescia e se perdia na distância do
além-Tejo, o passageiro de Coimbra. A
máquina galgava quilómetro após quilómetro, enquanto o admirador de paisagens
admirava a lezíria, logo depois a Ponte Marechal Carmona, e mais perto,
agora, depois de ter atravessado a Vila, em velocidade, a ligeira ondulação
das águas do Tejo que lhe trouxeram à memória as proezas desse fenómeno
Baptista Pereira todo engordurado a atravessar a Mancha ou a bater o «record»
da travessia do Estreito de Gibraltar… E
não sei se vocês conhecem a sensação de força da deslocação, do chiar de
ferros e respectivo matraquear, barulho
característico de dois comboios cruzando-se em plena velocidade… Pois
foi tudo isso que aconteceu nesse momento… O dorminhoco de Santarém abriu um
olho, depois o outro, levantou os braços e, automaticamente, apalpou o lado
direito do casaco… «– Estou roubado!» –
quase gritou. E estava mesmo… A carteira, que afirmava a pés juntos ter
naquele bolso quando entrara no compartimento com aqueles dois passageiros, e
ali se sentara, tinha desaparecido. E com ela, cerca de cinquenta e seis mil
escudos. Chamou-se
o revisor, e dali ninguém mais saiu. E logo que chegaram a Lisboa, entrou a
Polícia… Apurou-se
depois que, afinal, e devido ao seu longo trajecto,
o passageiro vindo do Porto também dormitara… Afirmara que não tinha sido ele
e que nada sabia do sucedido. Claro
que o negociante de Santarém continuava a afirmar que tinha entrado no
comboio com a carteira e que tinha ido imediatamente para aquele
compartimento e lugar… Dizia que o poderia provar com duas testemunhas, sabedoras
do assunto, e que o tinham acompanhado até ao comboio… Do
passageiro de Coimbra, nada de útil se conseguira. Apenas afirmara que nessa
altura ia ligeiramente debruçado na janela e, ao verificar que se aproximava
outro comboio, retirara-se e «fechara o vidro», levantando-o rapidamente. Que
não… Que não havia curva nenhuma para a esquerda, mas sim para a direita da
máquina, e como a outra máquina vinha a deitar muito fumo, raspara-se para
dentro antes que passasse por si… Enfim…
Nem a carteira nem o dinheiro foram encontrados no compartimento… – e na
carruagem não vale a pena pensar, visto que nenhum tinha saído daquele compartimento
de 2.ª classe… O
inspector Duque, de serviço e a quem competira
aquele «caso», «pressentira» qualquer coisa, mas não chegava lá… Havia uma
luzinha, lá isso havia… Depois, como o outro que ultrapassada a negra
escuridão do túnel, vê uma claridade que vai aumentando… E aumenta tanto que,
na verdade, acaba por ofuscar… –
Vocês já experimentaram sair do túnel do Rossio (ou de outro qualquer!) para
a livre claridade num dia de Sol de Julho?... Pois é!...
Foi isso mesmo… …E
a carteira lá estava, depois de se ter verificado a tabela exacta do horário desses dois comboios que se cruzavam… E
apenas imperou um raciocínio de lógica «sherlockolmiana»
– a nossa preferida! – para desvendar o «caso». «Caso»
que veio a ser muito falado… Tanto, que eu sou capaz de perguntar: 1
– Calcula de que lado da via e em que alturas do percurso se encontrou a
carteira? 2
– Quem acha que roubou e porquê? (Explique convenientemente o raciocínio para
a resposta às 2 perguntas). |
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© DANIEL FALCÃO |
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