Autor Data 2 de Abril de 1981 Secção Mistério... Policiário [306] Competição Torneio
“Dos Reis ao S. Pedro” Problema nº 6 Publicação Mundo de Aventuras [390] |
A MORTE DO INDUSTRIAL Inspector Zacarias –
Inspector Zacarias! Há uma missão para nós! – quase me gritava o sargento Gomes entrando de rompante no
meu gabinete. Levantei-me,
vesti o casaco e perguntei-lhe o que tinha acontecido. –
Assassínio, segundo fui informado. Chegámos
por fim à morada indicada. Tratava-se de uma soberba mansão, cercada por um
magnífico jardim, embora com um aspecto um bocado
descuidado. Bati à porta e logo de seguida veio uma criada abrir. –
Sou o inspector Zacarias, da Polícia… –
Ah! Entre… Entrámos
e fomos conduzidos a uma sala onde estava uma senhora de aspecto
lacrimoso, sentada num sofá. Era a esposa da vítima! – soubemos
logo a seguir. –
Chegaram, finalmente – disse ela levantando-se. – Vou conduzi-los ao local
onde o meu marido foi assassinado. A
senhora conduziu-nos ao escritório. Era relativamente amplo, bem decorado e
alcatifado, vendo-se ao fundo uma espaçosa secretária. Sentado nela,
encontrava-se o corpo sem vida do sr. Rogério
Fontes, com a cabeça caída sobre o tampo e os braços pendentes. –
Eu vi o assassino! – exclamou repentinamente a
senhora irrompendo em choro. – Eu sabia que o Rogério estava a trabalhar aqui
no escritório e vim perguntar-lhe o que ele queria para o almoço. Entrei, e
então vi um homem encapuçado com uma pistola encostada à cabeça do meu
marido. Ele ao ver-me disparou-lhe a arma e fugiu pela janela do jardim.
Desmaiei logo de seguida e só me restabeleci quando já cá estavam os criados… Observei
o local. A janela, que de facto dava para o jardim, encontrava-se aberta.
Espreitei para fora. Tinha ali um empedrado e com o tempo seco não havia
hipóteses de encontrar pegadas nítidas. Também na alcatifa não havia sinais
delas. Quanto à vítima, devia ter os seus 60 anos, era gordo e completamente
calvo. A bala assassina perfurara a cabeça de lado a lado. Cerca de 3
centímetros acima da orelha esquerda havia uma ferida de bordos irregulares
da qual brotara sangue que já se encontrava coagulado. Do outro lado, pelo
contrário, a abertura era regular e circular. Fontes
era um importante industrial e sobre a secretária havia um monte de papéis
que ele estivera a assinar. Notava-se uma certa desarrumação na papelada. O
cinzeiro estava repleto de pontas de cigarro. Perguntei
à senhora de que lado estava o assassino quando disparou, e ela esclareceu-me
dirigindo-se para o lado esquerdo do marido. –
Disparou por este lado – disse, soluçando. Depois,
o Gomes e eu fomos interrogar, individualmente, o resto do pessoal de casa: a
criada Elisa que nos fora abrir a porta, a cozinheira Júlia, e o jardineiro
Mário. Elisa
– Estava eu a tricotar, aguardando ordens da senhora, quando ouvi um tiro
vindo do escritório do senhor. Fui a correr e vi o patrão caído sobre a
secretária, com sangue na cabeça, e a patroa caída na carpete. Verifiquei
logo que estava desmaiada e quanto ao patrão pareceu-me morto. Aflita, fui
chamar a Júlia e o Mário e verificámos que assim era… e logo telefonámos para
os senhores. Depois, a senhora recuperou e, já sabe o resto. Júlia
– Olhe, eu estava a preparar umas batatinhas com uma pescadinha que comprei
ontem no mercado e que me custou um ror de dinheiro!
Se fosse eu que mandasse nesta casa não a comprava, digo-lhe já! Mas agora o
patrão só podia comer coisas deste género, porque andava doente do estômago.
Mas como eu lhe ia dizendo, a patroa tinha-me mandado fazer a pescada. Dali a
um quarto de hora ouço um barulho esquisito! Mas nunca pensei que fosse um
tiro! Só quando me apareceu para aí a rapariga, a Elisa, toda alvoroçada é
que me apercebi que tinha acontecido uma desgraça! Se eu caço esse bandido do
capuz que a senhora diz ter visto, garanto-lhe que lhe torço o pescoço!... Mário
– Eu estava atarefado a tratar de umas ferramentas lá fora, no jardim. Só não
devo ter visto o tipo porque eu estava na ala oposta… Se eu tinha motivos
para assassinar o patrão? Para lhe ser franco digo-lhe que em tempos tive uns
certos aborrecimentos com ele… mas, acha-me com cara de assassine encapuçado?
Já
depois do corpo ter recolhido à morgue onde iria ser efectuada
a autópsia, e de terem sido tiradas as fotografias ao local do crime, posição
do morto, ter sido encontrada a cápsula e a bala, etc. e etc., o sargento
Gomes e eu dirigimo-nos para a «base». –
Quanto a mim, inspector, temos um problema bicudo
entre mãos! –
Não o creio, sargento… Já calculo quem foi… Com mais um interrogatório
apertado fica o problema resolvido… A propósito do «problema» até dá
vontade de perguntar: 1
– Quem acha que disparou a «arma assassina»? 2
– Justifique, plenamente, a razão da sua resposta. |
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© DANIEL FALCÃO |
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