Autor Data 10 de Março de 2018 Secção Publicação Audiência GP Grande Porto |
O CASO DO LEILÃO DE PINTURA REALISTA Inspetor Boavida Manuel Pimpão,
construtor civil que subiu na vida a pulso, atualmente possuidor de uma
enorme fortuna, não é propriamente um “expert” em
matéria de artes plásticas, muito pelo contrário, mas tem um particular
fascínio por obras de arte realistas, sobretudo as que espelham com rigor
paisagens, monumentos e pessoas pelas quais nutre respeito e admiração, sendo
neste momento detentor de uma vasta e valiosa coleção. Aquela sua paixão
levou-o há dias a um leilão de Obras de um pintor-retratista dotado de
extraordinária sensibilidade, falecido em circunstâncias pouco claras num
acidente de viação ocorrido numa “picada” em Angola, quando ali rebentou a
guerra colonial, que tinha a particularidade de pintar figuras públicas
socorrendo- se apenas de fotografias publicadas em capas de revistas,
retratando-as até ao mais ínfimo pormenor, a expressão, o brilho do olhar e
até o carácter… O leilão foi
calmo, sem fulgor, sem chama, com os licitadores a arrematar cada uma das
Pinturas sem despiques de relevo. Pimpão arrematou um belíssimo Quadro onde
se via Salazar a agraciar um soldado de uma companhia de comandos com a
medalha de Cruz de Guerra, numa parada militar, junto ao Mosteiro dos Jerónimos,
depois de dois lances disputados com um misterioso sujeito de bigode farto e
retorcido, vestido de gabardina, adquirindo de seguida, sem oposição, uma
Obra que retratava o antigo presidente da República General Spínola no dia da
sua tomada de posse. Para além
daquele despique, aconteceu ainda uma pequena “picardia” entre os mesmos
protagonistas quando o leiloeiro anunciou um soberbo Retrato do grande
Eusébio, com a camisola das quinas, rematando, no seu estilo inconfundível,
para um dos cinco golos com que Portugal “brindou” a seleção da Coreia do
Norte no Campeonato do Mundo de Futebol, realizado em Inglaterra, que o
sujeito de gabardina acabou por arrematar por um valor apreciável. Mas a grande
discussão gerou-se quando o leiloeiro anunciou a última peça, um fantástico
Retrato 1,80mx1,20m a óleo, com o capitão Salgueiro Maia em pleno largo do
Carmo, em cima da Chaimite que o trouxe da Escola Prática de Cavalaria, de
Santarém até Lisboa, naquela primavera de cravos e sorrisos, que abriu as
portas à Liberdade. Após quatro lances “inflamados”, Pimpão acabou por
arrematar aquela preciosa Obra que o deixou radiante de felicidade. Porém, quando,
no final do leilão, se preparava para passar o cheque com o valor das Obras
que havia arrematado, Pimpão viu-se envolvido de repente numa enorme confusão
de gritos, insultos e agressões físicas, que só não tomou proporções muito
mais graves graças à pronta intervenção do subchefe Pinguinhas que se
encontrava em serviço no local. Firme e
decidido, impondo a sua autoridade, Pinguinhas pôs fim à altercação e levou o
construtor civil Manuel Pimpão, o tal sujeito de bigode farfalhudo e o
leiloeiro, até ao posto da Polícia, onde resolveu o caso em
“menos de nada”. Primeiro identificou os três e depois mandou dois deles
de volta e deu ordem de detenção ao outro. Pergunta-se:
quem ficou detido e porquê? |
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© DANIEL FALCÃO |
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