Autor

Inspetor Boavida

 

Data

1 de Agosto de 2023

 

Secção

O Desafio dos Enigmas [167]

 

Competição

Torneio "Solução à Vista!" – 2022

Prova nº 12

 

Publicação

Audiência GP Grande Porto

 

 

SMALUCO E A ESTRANHA CARTA SEM REMETENTE

Inspetor Boavida

 

Os dias do detetive Smaluco, nos inícios da pandemia, foram passados em confinamento, agarrado ao computador. As redes sociais, a sua conta de email, o google e demais motores de busca eram as fontes de informação possíveis. O carteiro passava pela sua rua de tempos a tempos, mas sem que isso aumentasse o contacto com o mundo exterior distante, porque daí não vinham notícias. De qualquer forma, gostava de o ver, em cima da motorizada, com a correspondência a tiracolo, só para confirmar a justeza do seu juízo quando lhe disse: “Os CTT estão cada vez piores! Você passa cada vez menos por cá. Um dia destes nacionalizo-o!” O carteiro sorriu, tristonho, como que concordando. Mas respondeu-lhe: “Você não precisa de mim, ninguém lhe escreve!”.

Um dia, porém, ao vê-lo ao longe, espantou-se com os gestos largos que ele fazia em sua direção, gritando algo impercetível aos seus ouvidos gastos de tantos anos de vida. O carteiro tinha uma carta para si! E este apressou-se a passá-la para as suas mãos, com tanta alegria que parecia que lhe era destinada a si próprio. Com a ânsia de abrir o envelope e ler o que lá continha, Smaluco nem agradeceu ao carteiro, fechando-lhe a porta quase na cara, mal-educadamente. O homem ficou parado a olhar para ele, através da vidraça da porta, com ar reprovador, e rumou à motoreta para voltar à sua lida de mensageiro dos novos-velhos tempos, à beira de ser definitivamente substituído pelas novas tecnologias. E Smaluco lá ficou, na entrada do prédio, a gozar aquela inesperada carta.

Na pressa, o nosso “herói” nem reparou que o envelope não tinha remetente, nem era identificada com assinatura no interior. Lá dentro, apenas se lia isto, numa folha A4 branca, com carateres de um vulgar computador, com o tipo de letra time new roman, no formato 10, em bold, mas impresso com tão pouca tinta e numa cor tão clara que se viu obrigado a subir as escadas, entrar no seu apartamento e colocar os óculos de leitura:

 

“São 23 as meninas da comunicação, cá entre nós. Se respeitares a sua ordenação natural, saberás quem sou e o que tenho para dizer-te. Atenta na presença das meninas na tabela seguinte, considerando que elas não se repetem em sequência:

1. São quatro as que vês, a partir da sexta, mas parecem muito mais.

2. Não estão cá, mas parecem estar.

3. Também não está, embora pareça o contrário.

4. Estão duas, mas parecem quatro.

5. Estão três, mas parecem quatro.

6. Nem uma para amostra, embora não pareça.

7. Outra que está ausente, embora ninguém o diria.

8. Outra que não se vê.

9. Esta está presente, mas não a triplicar como parece.

10. Esta não está, como se vê.

11. Esta sim, está presente, mas só uma vez.

12. Esta é uma só, nada mais.

13. Esta também está sozinha.

14. Esta está duas vezes, como se vê.

15. Uma vez apenas, nada mais.

16. Uma vez apenas também.

17. Esta diz presente duas vezes.

18. Nem vê-la, como se vê.

19. Uma vez apenas, à 19ª, embora pareça a dobrar.

20. Aparece duas vezes.

21. Nada.

22. Bola.

23. Zero.”

 

No final da folha branca, estava a data de dez dias antes (“malditos Correios”, pensou Smaluco) e este emaranhado de números, como se de uma assinatura se tratasse:

15517414112520162051794141311911191

    

O detetive Smaluco leu, releu, releu, e… nada, bola, zero! Não só não percebeu nada do que estava escrito, como não vislumbrou de quem pudesse ser a autoria de tão estranha missiva. Ele bem puxou pela cabeça, passando em revista todos os seus antigos camaradas mais divertidos e amigos de pregar partidas, e todos os atuais e fiéis companheiros das horas amargas que tem vivido após a separação da sua amada Natália, sem que tenha chegado a nenhuma conclusão plausível. E o leitor, consegue decifrar este enigma?

 

Diga-nos qual o teor da mensagem e quem a enviou, justificando como chegou a essa conclusão.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO