Autor

Inspetor Fidalgo

 

Data

16 de Setembro de 2016

 

Secção

O Desafio dos Enigmas [8]

 

Publicação

Novo Audiência

 

 

Solução de:

O INSPETOR FIDALGO DÁ UM CURSO

Inspetor Fidalgo

 

Como facilmente se verificava e quase toda a gente viu, o “caso” retratado no curso, e onde brilhou Agripino, era tipicamente uma situação de homicídio. Fatores psicológicos e materiais assim indicavam:

o estado de espírito da vítima, de quem estava a “viver a vida” e a gozar, não indicia qualquer tendência suicida;

não há notícias, correspondência ou telefone que lhe possa dar azo a qualquer alteração de humor ou de estado de espírito no sentido da mudança;

ninguém se senta num carro e aperta o cinto de segurança para em seguida se suicidar;

um suicida nunca dispararia uma arma com uma inclinação tão acentuada, de cima para baixo (como iremos provar);

o tiro é desferido da têmpora direita para os maxilares no lado esquerdo da cara da vítima. Prova-se esta afirmação com o facto conhecido de qualquer projétil produzir muito mais danos ao sair do que ao entrar. Principalmente por sair mais debilitado, em termos de força, depois de rasgar tecidos e de desviar em ossos, não saindo, pois, com o mesmo movimento de rotação uniforme com que entrou. Isto apesar de ainda ter força para perfurar a chapa da porta do lado esquerdo;

a rebarba que fica na porta da viatura, em torno do orifício e onde o agente se fere, indica que o projétil saiu por ali, pois se entrasse, a rebarba seria para o interior, onde o painel da porta não permitiria sequer ver essa rebarba;

o tiro não foi dado à queima-roupa, com o cano encostado, como seria em caso de suicídio, porque a ferida não apresenta sinais dessa aproximação (queimaduras, contornos irregulares e lacerados), mas, antes, um orifício mais ou menos regular, digamos disparado a cerca de um metro, ou coisa que o valha.

Outros fatores que poderiam ser explorados seriam o cheiro a pólvora, não tão intenso como seria se o tiro fosse dado ali mesmo, junto à cara e a circunstância de a vítima não estar sentada em posição normal na viatura, mas sim debruçada para a frente, única forma de ter aquela inclinação e perfurar a porta e não o vidro do lado esquerdo. A tirar alguma coisa do porta-luvas? A tentar meter a chave na ignição? A tentar ver quem estava ali, partindo do princípio que teve essa perceção? Quem sabe?

© DANIEL FALCÃO