Autor Data 20 de Fevereiro de 2018 Secção Publicação Audiência GP Grande Porto |
MORTE EM LISBOA Inspetor Fidalgo O sol estava
radioso e penetrava por entre o casario, fazendo assomar às janelas rostos
alegres. Por uma dessas janelas saiu um grito estridente que atraiu imediatamente
uma série de pessoas em busca de um espetáculo esperado. Sangue! Com a
chegada da polícia, ainda mais se agitou o público, discutindo e fazendo
conjeturas sobre o sucedido. O inspetor
Fidalgo entrou no quarto atafulhado de roupas, móveis, numa desarrumação
incrível, e olhou a vítima, uma jovem loira, bonita, de uns olhos azuis
intensos mas imóveis. Depois de
algumas fotografias, foram-lhe apresentados três suspeitos, homens com que a
moça privara nos últimos tempos. Interrogados,
fizeram as seguintes declarações: Inácio: “Não
vira nada. Vinha buscá-la às 18h00, como tinha sido combinado. Quando ia a
subir as escadas, ouvi um grito, corri pelas escadas acima, mas quando lá
cheguei não vi ninguém e ela estava morta. Não toquei em nada, claro!” Afonso:
“Estive com ela até às 17 horas, mais ou menos. Trouxe-a a casa e não me
apercebi de nada de extraordinário. O que sei é que a deixei viva e de boa
saúde. Fui-me embora e não sei de mais nada”. Américo: “Já
não a via há meses. Vinha hoje visitá-la e, de certa forma, fazer as pazes
com ela. Não sei de nada e, se quer que lhe diga, acho muito estranho que a
matassem com uma faca daquele tamanho. Estou chocado, espero que compreenda…”
A morta ia ser
transportada do compartimento ao lado para a morgue. Aquela casa fatídica,
com apenas uma porta de acesso, uma janela e dois compartimentos, fora
abalada pela morte da sua única ocupante. Já na rua,
Américo pediu para ver a moça pela última vez, porque já não a via há meses,
e a cena foi comovente. Mais tarde, na
Judiciária, o inspetor Fidalgo examinava os resultados da autópsia, olhando
nostalgicamente as fotografias onde aparece um corpo bonito, cara arredondada
e olhos azuis fitando o teto. O resultado da
autópsia indicava que a morte ocorrera por via de uma incisão nas costas
provocada por uma faca de cabo preto, que atingiu o coração. O inspetor
Fidalgo já sabia quem era o culpado… A – O culpado
foi Inácio, porque já tinha subido as escadas e ninguém o acompanhou ao
entrar no quarto; B – O culpado
foi o Afonso que a foi levar a casa e a matou quando soube que o Inácio a
vinha buscar, por ciúmes; C – O culpado
é o Américo, porque apareceu sem avisar e viu a moça a despedir-se do Afonso
e à espera do Inácio; D – O culpado
é o Américo, porque não podia saber como a jovem tinha sido morta. |
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© DANIEL FALCÃO |
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