Autor Data 30 de Março de 2018 Secção Publicação Audiência GP Grande Porto |
O INSPETOR FIDALGO NA PRAIA Inspetor Fidalgo Decorria o ano
de 1990, o verão espreitava no calendário e em Lisboa festejava-se o dia da
cidade, com romarias, arcos e balões, desfiles e sardinha assada. Quem não
entrava nesses festejos aproveitava o dia ensolarado para um salto à praia,
nos areais ainda mais ou menos limpos da Costa da Caparica. Era o que
acontecia com o inspetor Fidalgo, pouco dado a folguedos, ainda que não
desprezasse, de quando em vez, uma boa farra ou
petisco bem regado… Depois de um
bom mergulho e alguns minutos de natação, a sua atenção foi atraída por uma
violenta discussão em pleno areal, entre um cabo-de-mar e um vendedor de
bebidas, gelados e afins. Saído da água,
o seu espírito científico, curioso, impeliu- o para o centro das atenções,
tendo oportunidade de ouvir: Cabo: “Eu já
lhe disse que não admito que venda neste local. Para isso tem de ter uma
licença especial concedida pela Capitania, porque tudo quanto é areal
pertence à Capitania regular e fiscalizar. Mais nada!” Vendedor: “Mas
eu tenho licença! Tirei-a na semana passada, como pode ver. Olhe aqui!...
Claro que não é passada pela Capitania, mas pode ver que não sou um bandido
nem um clandestino…” Cabo: “Essa
licença está passada pela Câmara Municipal… Tudo bem com eles, mas eu tenho
ordens de só deixar vender quem estiver autorizado pela Capitania. Se está
bem ou não, isso não sei dizer…” Vendedor: “Ora
abóbora! Vai um gajo à Câmara, gasta dinheiro para
comprar este papel selado, paga emolumentos e taxas e mais eu sei lá o quê,
para eles aqui porem, preto, pretinho, que eu, fulano de tal, estou
autorizado a vender no areal da Caparica… Vejam, vejam bem… – e exibia uma
folha de papel selado, autenticada pela Câmara Municipal, datada de 6 de
junho, que lhe dava autorização para vender no areal, sem limitações, os
produtos que ele estava vendendo – Como é que é? Ó sr.
Cabo, eu não sou nenhum meliante, tento trabalhar honradamente e o senhor
está a dar-me cabo de vida. Por favor, prometo que amanhã mesmo vou à
Capitania pedir mais essa autorização… Prometo…” Cabo: (perante
as manifestações hostis dos presentes, que iam gritando que ele estava a
impedir o pobre homem de vender honradamente e que se calhar queria era que o
desgraçado fosse roubar…) “Está bem, está bem, mas eu estou de olho em si… Se
o volto a ver aqui sem estar autorizado, garanto que não fica assim… Por esta
passa, mas tem de agradecer a estas pessoas, que senão…” O inspetor
esperou que todos fossem dispersando e dirigiu-se ao cabo-de-mar: “Sr. Cabo,
não sei se é mesmo obrigatória essa licença ou se estava só a ameaçar o
homem, mas acho que fez mal em deixá-lo ir embora assim, sem mais nem menos, porque…” A – O
documento que o homem mostrou era falso. B – O
documento podia ser verdadeiro, mas não poderia ter aquela data. C – O
documento tinha de ser falso e não podia ter aquela data. D – O
documento podia ser verdadeiro, mas o cabo de mar não pediu a identificação
do homem, pelo que podia ser de outra pessoa. |
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© DANIEL FALCÃO |
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