Autor Data 10 de Abril de 2018 Secção Publicação Audiência GP Grande Porto |
O INSPETOR FIDALGO AO LUAR DO VERÃO… Inspetor Fidalgo O inspetor
Fidalgo nem queria acreditar no que lhe acontecera. Na verdade nem parecia
possível que, numa noite tão bela e quente como aquela, com um luar tão
perfeito, com a lua a mostrar toda a sua plenitude, redonda e brilhante, um
qualquer tipo, certamente com algum problema, viesse ter com ele, daquela
maneira, a gritar que tinha visto um lobisomem e outras coisas igualmente
incríveis. O inspetor
olhou o homem com um misto de interesse e compaixão, logo se arrependendo
deste último sentimento. Na verdade, o homem parecia estar convicto de que
tudo acontecera como estava a contar… “Mas é
verdade, inspetor, foi hoje mesmo… Julga que sou algum lunático, não é
verdade? Pois não sou… Hoje mesmo, dia 5 de junho deste ano de 1993, com esta
Lua Cheia que pode ver, que o lobisomem apareceu… Eu mesmo o vi!” “Enganou-se,
certamente… Deve ter imaginado”, retorquiu o inspetor. “Não, não e
não! Eu vi-o. Eram mais ou menos 21h30 e a escuridão invadia já os caminhos
ermos por onde tenho de passar, para chegar à minha
casa. Foi ali mesmo, naquele sítio, escuro como breu, como pode ver, só
iluminado pela luz da Lua. Como pode ver, quando a lua se mostra, ainda se vê
alguma coisa, mas quando as nuvens a tapam…” “E o que é que
aconteceu?” “Ora, aquelas
nuvens escuras encobriram a Lua e ficou tudo escuro. Foi então que me atacou…
Só tive tempo de me esquivar, julgando que era algum cão, ou coisa assim, mas
logo a seguir a Lua descobriu a sua face redonda e pude ver claramente que
era um homem com o corpo coberto de pelos, com feições de lobo, horrível…
Desatei a fugir e tive a sorte de estarem a chegar outras pessoas, que
espantaram o animal, ou homem, ou lá o que ele é…” “Mas ele
chegou a fazer-lhe algum mal?”, insistiu o inspetor Fidalgo.
“Não, tive
muita sorte!”, respondeu o homem. Nenhum dos
indivíduos que ele apresentou como tendo chegado a tempo de o safar viu fosse
o que fosse e tudo o que sabiam era pelo que o “nosso” homem contara. O inspetor
Fidalgo sabia que não podia ser um lobisomem o que ele vira, mas queria
aprofundar se o homem estaria a mentir ou se estaria de boa-fé, enganado por
um qualquer fenómeno… E pensou…
Poder-se-iam pôr as seguintes hipóteses: A – O homem
mentiu premeditadamente, inventando uma história que nunca poderia ter-se
passado como ele conta. B – O homem
mentiu sem querer, confundido por ter visto alguma coisa que alguém, para lhe
meter medo, forjou. C – O homem
não mentiu, antes viu e sentiu tudo como indicou, embora não fosse, como é
óbvio, um lobisomem. D – O homem
não mentiu e nada impede que não haja mesmo lobisomens e que tudo seja,
rigorosamente, como descreveu. |
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© DANIEL FALCÃO |
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