Autor Data 4 de Dezembro de 1994 Secção Policiário [179] Competição Prova nº 9 Publicação Público |
Solução de: UMA HISTÓRIA ULTRA-ROMÂNTICA… Insp. Moka A história pretende relatar
uma situação trágica tipicamente ‘fin de siècle’. Não chega bem ao ‘Noivado
do Sepulcro’ que fazia desmaiar as meninas neuróticas e tinha o seu quê de
erótico naquilo dos esqueletos numa tumba só, mas para lá caminha! O avô de
Morgado, ainda novo em idade e rijo de carnes, mandou o filho tísico para a
Suíça. O filho morreu lá, mas antes teve tempo de pejar uma menina suíça que
dele se enamorou. Não houve tempo de se casarem. O avô, entretanto, enviuvou.
Sabendo de que havia novidade foi ao Norte de Itália, onde convenceu a jovem
seduzida e abandonada (aqui pela força das circunstâncias) a ir ter consigo.
Encontraram-se em Trieste debaixo da bandeira tricolor: primeira patranha!
Trieste era, nessa altura, uma parte importante do Império Austro-Húngaro.
Daí decidiram viajar juntos e, rasgo dos antigos, o velho avô decide que o
neto há-de ter pai. Daí que a história comece em avô e acabe em pai, e aí não
há nada de mal porque não havia qualquer vínculo anterior que pudesse
embaraçar o processo. Estar no estrangeiro facilitava as coisas. Segunda
patranha: não poderia ser datada de Ancara uma certidão lavrada na capital da
Turquia. A Turquia era então um vasto império e daí falar-se mesmo em Turquia
da Europa, Turquia da Ásia e Turquia da África nos escritos da época. Se bem
que o sultão residisse em Constantinopla e o corpo diplomático estivesse aí
credenciado, não existia Ancara – obra de Mustafá Kemal Ataturk, anos depois.
Não é patranha o recurso à
embaixada italiana: durante muitos anos, os interesses de Portugal junto da
Sublime Porta foram tratados por aquela representação diplomática. A certidão de nascimento
não podia registar o dia 29 de Fevereiro de 1900 porque esse dia… não
existiu! Em contrapartida, o dia 29-2-2000 vai existir (pela regra de ser
bissexto o ano milenar divisível por 400, mas não serem os outros anteriores,
ainda para absorver a conversão dos calendários juliano/gregoriano). Também a
mudança de século não se operou a 1-1-1900, como se não operará a 1-1-2000! ‘Deniz’ é mesmo ‘mar’ em
turco. Falar em 25 de Abril está
correcto em 1972 se referido à comemoração do 25 de Abril de 1945, que então
era e ainda é feriado em Itália (comemoração da deposição do regime
fascista); porém, essa data não tem a ver com a reunificação italiana, muito
anterior, pelo que a relação dos dois factos pelo Morgado também é incorrecta… Será difícil um Adler andar
em 1972, mas isso pode suceder. O ilustre Domingos também dá uma ‘patada’ na
verdade ao datar de 1972 a ida do Morgado em busca do ‘Expresso’, cujo 1º número
só saiu em 6 de Janeiro de 1973. |
© DANIEL FALCÃO |
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