Autor Data 8 de Setembro de 1977 Secção Mistério... Policiário [130] Competição Torneio
“Tertúlia Policiária do Palladium" Problema nº 4 Publicação Mundo de Aventuras [206] |
DIÁRIO DA MANHÃ… CRÓNICA Investigador Bazooka «Venho
hoje, nesta minha crónica semanal, trazer ao conhecimento dos leitores do
«Diário da Manhã» um caso que comigo se passou, para o qual ninguém encontrou
solução, nem eu mesmo, e que, talvez por isso, ganhou um enorme interesse.» 11.45
h. Estação ferroviária de Vila Verde, Duas longas
horas tinha o comboio de atraso. Na estação, tanto eu como os meus futuros
companheiros de viagem, encontrámos no telheiro da mesma a única protecção contra o sol, que brilhava fortemente e começava
a queimar… Ao
longo das duas horas que ali estivemos tive tempo de ficar a conhecer os meus
companheiros de viagem. Eram
eles: «A
velha senhora, rica, mas
fisicamente débil, que viajava de comboio porque «não podia» com os automóveis… O
seu sobrinho, tipo atlético, que,
no momento, devorava com os olhos um livro policial. Era,
juntamente com a enfermeira e o médico, os únicos companheiros da débil
senhora. A
enfermeira, rapariga dos seus vinte
anos, ao que parecia muito dedicada à doente. O
professor da vila. Era também
licenciado em Medicina, pelo que ali se encontrava a acompanhar a velha senhora… Reparei
nos «olhares» desvelados que ele concedia à enfermeira… Finalmente,
lá veio o comboio. Entrámos todos para a mesma carruagem. O sobrinho da
senhora içou-a com facilidade para a plataforma. Havia
já meia hora de viagem. À minha frente, e junto à
janela, encontrava-se o atlético sobrinho da senhora, que continuava a ler o
seu livro com sofreguidão. Ao
meu lado direito estava o professor, leptossómico por natureza, que agora só
tinha olhos para a enfermeira… Ao
lado esquerdo do sobrinho, a enfermeira fazia malha, meio divertida com tudo
aquilo… Quanto
a mim, junto à janela, encostei-me para trás e repousei um pouco, olhando a
paisagem. A
velha senhora encontrava-se, um tanto ou quanto apertada, numa cadeira de
rodas, entre mim e o sobrinho, de costas para a janela. Quis
ali ficar, porque, segundo disse, os bancos da carruagem eram duros de mais
para ela… De
olhos meio fechados, olhava pela janela e via as árvores aparecerem-me como
que por encanto nos olhos e via-as afastarem-se até serem minúsculos pontos
ao longe… Agora
unia parede, não, um túnel… A abertura desapareceu também ao longe e as
luzes, ao contrário do costume, não se acenderam… Na
mais completa escuridão, dirigi-me aos lavabos. De
repente, uma travagem do comboio, brusca, a fundo, projectou-me
para a frente. Mal
refeito, lá continuei a dirigir-me aos lavabos. Ao
sair de lá, o comboio, lentamente, saía também da penumbra do túnel, e foi
então que soou o sinal de alarme. Imediatamente
se imobilizou. Dirigi-me
à minha carruagem, para ali encontrar tudo numa
balbúrdia infrene. No
compartimento onde eu viajava, alguns gritos da enfermeira levaram-me a crer
que alguma coisa se tinha passado. Ao
chegar lá, saía o sobrinho da senhora: «Desapareceu
a minha tia. Desapareceu! A janela está aberta e ela não está no compartimento.
Ai a minha cabeça. Maldita travagem, virou tudo do avesso e uma mala, por
acaso a sua, bateu-me na cabeça. Veio projectada do
friso que está por cima da sua cabeça. Mas isso não interessa, Temos de saber
da minha tia.» Já
lá se encontravam o ajudante de maquinista, cobrador, etc. O
professor não parecia muito descontente… A travagem projectara
a enfermeira para a frente e ele havia tido oportunidade de a segurar e de a
ajudar a restabelecer o equilíbrio… Era
isso que ela agora lhe agradecia… Boa pequena. De
qualquer das formas, a senhora no comboio não estava. Descobriu-se
o corpo meia hora depois, em pleno túnel, e é claro que morta. Fomos
todos interrogados, mais tarde, na esquadra da Polícia. Nada se apurou; no
entanto, eu fiquei com o pressentimento que ela tinha sido assassinada… Por
quem, não sei. Se
algum dos leitores souber de elementos que ajudem… é favor escrever para a Redacção. Por hoje é tudo. Dias
depois recebi uma carta que começava assim: «Tenho 10 anos. Não sei de nenhum elemento
que o ajude, mas li a sua crónica e deduzi isto…» Aqui,
interrompo eu para perguntar: 01
– Se concorda comigo, quem acha que pode ter sido o criminoso? 02
– Diga o porquê da sua razão, baseando-se nos dados do texto. |
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© DANIEL FALCÃO |
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