Autor

J-23

 

Data

Agosto de 1982

 

Publicação (em Secção)

Clube Xis [10]

 

 

Solução de:

O CASO FÁCIL… EM LISBOA

J-23

Solução apresentada por D. Chicote

– …E foi tudo – concluiu Gomes. – Quem achas que foi o assassino?

Deka, que havia seguindo atentamente o relato do colega, não quis precipitar-se na resposta sem, antes, relacionar alguns pormenores:

– Dois suspeitos, dois depoimentos contradit6rios. O mordomo acusando claramente o sobrinho da vítima, dizendo “vi o sobrinho dele fugir”; o sobrinho acusando veladamente o mordomo, ao dizer “a porta do quarto do meu tio estava aberta pensei que o mordomo a tivesse deixado assim” Para já, há uma contradição nas horas indicadas pelos suspeitos.

Exactamente – confirmou Comes – o mordomo diz que viu o sobrinho do milionário saltar pela janela às 2 horas e o acusado diz que só entrou em casa às 3 horas.

– Três horas!… – suspirou Deka – bons tempos em que também eu ficava nos bailes até essa hora… e até mais tarde. Ora, a veracidade ou no deste alibi não é muito difícil de comprovar. Basta perguntar a quem esteve no baile se lá viu o rapaz até essa hora e, no caso do salão de dança não ser longe da casa do milionário, averiguar se este suspeito não se ausentou antes das duas. Seguiste esse caminho?

– Não foi preciso – sorriu Gomes.

– Já sei: não houve baile, de modo que ninguém poderia confirmar o alibi do rapaz – sugeriu Deka; mas, caindo em si… – Qual quê, quando não houvesse baile no dia 28, que foi um domingo, não haveria nunca!…

– E não estranhas que, vendo a porta do quarto do tio aberta, como disse ter visto, o rapaz não desconfiasse de nada? – perguntou Gomes, a sorrir.

– Não gozes, por favor. Lá porque te não dei logo a resposta, não quer dizer que não acabo por lá chegar. Só que essa “desconfiança” que insinuas dever assaltar o rapaz não me convence. Quem não deve, não teme. Pode é provar a inocência do moço. Demais, a missão de velar, à noite, pelo tratamento do tio, pertencia ao mordomo.

– Então é para o mordomo que tu te inclinas?

– Não chegaste a dizer-me nem a hora nem o modo como foi assassinado o milionário.

– Nem precisas de saber. Perguntei-te, apenas, se sabias quem tinha sido o assassino que, aliás, já confessou o seu crime. E garanto-te que te revelei todos os dados que me levaram à resolução deste caso – e sorrindo – ora, como não és menos arguto do que eu…

Deka não gostou da gracinha. Mas, sorriu também. Agora iria direito à resposta:

– Bem, a resposta está na lua. Como sabes, a lua cheia nasce quando o sol se põe e põe-se quando o sol nasce, garantindo à Terra estar sempre iluminada. Mas, num vale, as montanhas que o circundam podem fazer sombra e impedir o luar de espalhar -se como o mordomo afirmou…

– Agora és tu que estás a gozar?! Às 2 da manhã está a lua cheia bem no pino do céu, não havendo montanha que possa tapá-la.

Deka soltou uma gargalhada.

– Pois, mas no domingo do crime era precisamente lua nova e essa, que eu saiba, não brilha nem ilumina o rosto dos assassinos imaginários saltando pela janela!...

Gomes desatou a rir também.

– Demais, o quarto do milionário nem era no rés-do-chão…

E, rindo, foram festejar com um cafèzinho.

© DANIEL FALCÃO