Autor Data 15 de Agosto de 2008 Secção Publicação O Almeirinense |
A DENÚNCIA Jartur Este
foi o primeiro caso em que fui colaborador directo
do meu amigo Marcos Dias, o jovem investigador que vem lutando, arduamente,
contra todos os que vivem à margem das leis. O caso era fácil e talvez por
isso mesmo eu consegui dar uma “empurradela”. De
resto, estou certo de que o Marcos não necessitaria dela para desvendar o
mistério. Nunca, como dessa vez, um caso entristecera tanto aquele jovem
investigador, já tão aclimatado a casos semelhantes. É que o delito tivera
lugar no “Clube do Aranhiço”, a que Renato presidia e Marcos dirigia como detective, visto que todos os sócios eram jovens amadores
do policiarismo. Os sócios fundadores eram 10,
fazendo parte deles eu, Marcos e Renato. Os restantes sete chamavam-se Júlio,
Óscar, Amílcar, Albino, César, Saul e Firmino. O
corpo fora encontrado pela mulher da limpeza que logo me fora chamar a casa,
ainda eu dormia. Corri, então, a prevenir o Marcos e, no carro dele, partimos
para o Clube, onde o triste cenário nos fez humedecer os olhos com lágrimas
sinceras e morder os lábios de raiva mal contida, ao depararmos com o corpo
do nosso grande amigo. A sede do Clube é um pequeno edifício e no primeiro
andar está instalado o gabinete da direcção. Esta
dependência foi o teatro do drama. O
corpo de Renato estava caído de bruços, junto da pequena mesa de
dactilografia. A seu lado, caída também, estava a moderníssima “Princesa
200”, na qual a sua mão esquerda se crispara fortemente. Um rasto de sangue
prolongara-se até junto do cofre, onde, em maior quantidade, coagulava havia
pouco. O cofre estava aberto. Depressa verificámos que haviam apenas
desaparecido os elementos relativos a três casos, que Marcos tinha entre
mãos. Ao lado da mesa da máquina encontrava-se a secretária da vítima, sobre
a qual estava instalado o telefone. Era
evidente que o delito fora praticado com uma arma branca, dado que o corpo
apenas apresentava um golpe na parte inferior da garganta. Em lado algum do
edifício foi encontrada qualquer arma capaz de ter sido utilizada pelo
criminoso. Quanto a impressões digitais, nada! Só as do morto, impressas nos objectos mais utilizados em serviço. Isto patenteava que
o criminoso tomara todas as precauções para que nenhum pormenor pudesse
desmascará-lo. De
uma coisa estávamos certos: Renato reconhecera o culpado, mas não
encontrávamos justificação para o facto de ele ter agarrado a máquina de
escrever, em vez de lançar mão do telefone. Teria ele tentado escrever o nome
do homem? Nem
eu nem Marcos atinávamos com a explicação. E o mistério persistia… até que o
funeral se realizou. Renato
era muito estimado por todos os que o conheciam e que com ele privavam
amiúde. Nenhum faltou, no acompanhamento até à sua última morada. A bandeira
do Clube era transportada por um dos associados e ladeada pelos restantes,
que caminhavam maquinalmente, com os olhos marejados de lágrimas. Foi
então que a solução do caso se me apresentou, quando fixei o rosto de um dos
colegas. Nunca ele me fora simpático; nem só eu o detestava. Quando contei a
Marcos o que pensava do caso, ele imediatamente concordou com o meu ponto de
vista. Era aquele, sem dúvida, o culpado da morte de Renato. Fora ele quem o
Renato acusara, antes de exalar o último suspiro. Renato era inteligente e
sabia que um só pormenor bastaria para que Marcos deitasse a mão ao culpado.
E assim aconteceu. Naquela
mesma tarde, no Clube do Aranhiço, Marcos algemou os pulsos de um dos sócios,
que, pouco depois, se confessou responsável pela morte de Renato. Dezenas
de anos vividos nas grades, sem luz, sem sol, sem liberdade. Desafio
aos Sherlocks: Qual
vos parece ter sido a solução dada ao caso? Será
que a mão esquerda da vítima, crispada fortemente na máquina, pretendia
denunciar alguém?
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© DANIEL FALCÃO |
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