Autor Data 10 de Fevereiro de 2012 Secção Correio Policial [19] Publicação Correio do Ribatejo |
ABSOLUTAMENTE CERTO… Jartur Sem
forçar a porta Marcos Dias entrou no aposento. Contornou a cama pela direita,
e aproximou-se do cadáver. Metido
num riquíssimo pijama azul, o corpo estava deitado com o braço direito
atravessado no leito, estendido na perpendicular do corpo. A mão empunhando correctamente uma pistola, caída ao lado do colchão,
vergada ligeiramente pelo pulso. A
cabeça estava em linha recta com o corpo, mas
inclinava-se ligeiramente para a esquerda deixando ver, no parietal direito,
um pequeno orifício circular cercado de sangue e vestígios de pólvora. Do
outro lado, a cabeça do homem apresentava uma ferida horrível, donde saíra o
sangue que manchava grande superfície do travesseiro. O
detective conseguiu tirar, após algumas
dificuldades, a pistola que o defunto segurava nos seus dedos contraídos.
Naquela arma, havia os sintomas evidentes de ter feito fogo nos últimos 30
minutos. No carregador faltava apenas um cartucho, e o invólucro deste foi
encontrado no chão, à direita da cama, muito próximo do tapete. Em
cima da cama encontrou-se o projéctil, amachucado. Voltando-se
para as janelas, o detective olhou através das
vidraças parcialmente levantadas mas nada mais viu do que a solitária
paisagem das montanhas. Atravessando o quarto, Marcos Dias viu e examinou, à
altura dos seus olhos, na parede onde ficava a porta e à direita desta, uma
mossa que deduziu ter sido feita pela bala. O
investigador passou de novo entre a cabeceira da cama e a parede, analisando
as peças de roupa que estavam penduradas naquela. As algibeiras estavam
vazias. Via-se, porém, sobre a mesa de cabeceira,
uma série de objectos de pequena valia. Só
duas pessoas suspeitas foram chamadas a declarar. Aliás, apenas uma se
chamou, visto que a outra foi quem deu o alarme e desde o primeiro minuto se
encontrava junto ao detective. José
Rafael afirmou que vinha mais uma vez visitar o padrasto, mas, ao aproximar-se
da vivenda, talvez a cem metros, ouviu duas detonações, uma que lhe pareceu
sair do interior da casa, e outra, quase simultânea, produzida num lugar mais
distante. Depois de um momento de reflexão, correra em direcção
ao edifício, no qual entrou sem vacilar, visto que a porta estava aberta. Ao
deparar com o corpo naquela posição, o seu primeiro pensamento foi avisar sem
demora as autoridades. O
lenhador vizinho declarou que andava aquela hora num pinhal muito distante e
nada ouvira de anormal. Acrescentou que nada lucraria com a morte do avarento
e ele próprio seria incapaz de a provocar. Investigações
posteriores, naquela altura desnecessárias, indicaram que o lenhador já
estivera preso por delitos vários. E
o caso ficou resolvido. A
questão que se põe: Existirá alguma solução que, neste caso, assente que nem
uma luva? |
|
© DANIEL FALCÃO |
||
|
|