Autor Data 15 de Outubro de 2007 Secção Competição Problema nº 1 Publicação O Almeirinense |
Solução de: O MISTÉRIO NÃO FOLGA Jartur Mamede Extratos das
soluções apresentadas por Daniel Falcão, Medvet e
Nove …
Jartur Mamede voltou-se para a máquina de escrever
“Brother”, igualzinha à que existia no “Clube do
Aranhiço”. Nesta, uma luzinha indicava, como ele muito bem sabia, a actuação da escrita centralizada. Todavia, a máquina não
tinha qualquer folha introduzida no carreto, se bem que houvesse vestígios de
que uma folha ali estivera. Sobre
o negro do rolo, via-se uma marca de sangue, que parecia ser uma impressão
digital, interrompida no sentido vertical, para a esquerda, como se a parte
que lhe faltava tivesse sido impressa no papel que fora retirado. Após reflectir um pouco, Jartur
Mamede admitiu que o amigo Aranha teria colocado uma folha no carreto e que,
ao acertá-la, colocou parcialmente o dedo sobre o carreto e sobre a folha,
para mostrar que a folha que ali estivera constituía uma pista para a
decifração do que acontecera. Se assim era, a folha em causa deveria estar em
qualquer lado. Mas onde? Lembrou-se
de examinar o cesto dos papéis, onde encontrou uma folha bastante amarfanhada
e com a mensagem seguinte: “PEDE
NOTÍCIAS A ESTA E À OUTRA”. Não
havia qualquer dúvida quanto ao autor daquela mensagem, pois a folha estava
manchada de sangue, assim como as teclas correspondentes às letras, bem como
outras, cujos caracteres não se encontram marcados no papel. O que
significaria aquela mensagem – “Pede notícias a esta e à outra”? Seria
necessário decifrar esta mensagem e uma outra mensagem? Mas que notícias nos
poderia esta mensagem dar e onde estaria a outra mensagem? Foi
nessa altura que o Jartur Mamede se lembrou da
luzinha verde que estava acesa. Colocou, então, uma folha nova no carreto,
premiu a tecla que indicava PTI e, automaticamente, a máquina electrónica começou a bater o texto. Era uma nova
mensagem, se bem que esta não apresentasse qualquer espaço entre letras nem
qualquer nexo: “BUFKTYSFGRTDYUÇTERSTGTQHFJA”. Jartur Mamede observou
que algumas das letras presentes nesta mensagem coincidiam com as letras
ausentes da primeira mensagem, mas que estavam manchadas na máquina de
escrever. Era esta a sua mensagem. Então, fez-se luz!.. A
primeira parte da primeira mensagem (isto é, “pede notícia a esta”) estava
cumprida. Ele pedira notícias a esta máquina, ao premir a tecla PTI, obtendo
como resultado a segunda mensagem. A segunda parte da primeira mensagem seria
decifrada mais tarde; ou seja, o “e a outra” significava recorrer a outra…
máquina de escrever. Lembrei-me que a máquina que tínhamos no
Clube do Aranhiço era do teclado português HCESAR, uma das excentricidades de
Salazar, criado para a língua portuguesa, por volta de 1937. A máquina no
escritório do Martins (“aquele escritório estava servido pelo mais moderno
equipamento para a época”) tinha o teclado AZERTY. Se alguém dactilografar,
sobre o teclado AZERTY, a sequência de letras BUFKTYSFGRTDYUÇTERSTGTQHFJAT,
tal corresponde a dactilografar, sobre o teclado HCESAR, o seguinte: FOI
MARTINSADROGAESTANAQUILHA; isto é – FOI MARTINS(.) A
DROGA ESTA(Á) NA QUILHA(.) Deste
modo, Aranha informou os investigadoras de que: (a)
fora Martins o responsável por aquilo que lhe aconteceu; (b) se confirmava o
negócio de droga e que (c) esta se encontrava escondida na quilha do iate do
seu antigo companheiro de tropa. Este (Martins) dissera, sem que lhe perguntassem,
que “já liguei para lá umas duas ou três vezes (aliás, ainda agora o fiz),
mas ninguém atende o telefone”. E, por isto, Jartur
facilmente concluiu que o Martins lhe tinha mentido. Se, de facto, tivesse
telefonado, como afirmara, tendo os fios sido rebentados, não receberia como
retorno o sinal de chamada, nomeadamente, na tentativa de contacto mais
recente, feita pouco tempo antes de ser contactado na discoteca pelos
“Aranhiços”. O sinal que retornaria seria suficiente para se aperceber que
alguma coisa de errado podia estar a acontecer e não ficar-se pelo simplista “mas
ninguém atende o telefone”. |
© DANIEL FALCÃO |
|
|
|