Autor

Joaninha

 

Data

8 de Novembro de 1986

 

Secção

Sábado Policiário [49]

 

Competição

Torneio de Outono

Problema nº 3

 

Publicação

Diário Popular

 

 

FOI ELE

Joaninha

 

Zé da Naifa, Ivo Marrafa, Manuel Cenoura! Três jovens uma linguagem própria com destreza e presunção.

Uma vez na cidade, um mundo de fantasia os habitava. Bares, cabarés, bairros e ruas de menor prestígio, tudo regado com litros de cerveja e por vezes cenas de pancadaria preenchiam essas horas extravagantes. De regresso a casa, altas horas da madrugada, com o álcool a dominar por completo os espíritos, discordavam frequentemente, chegando mesmo por vezes a agredirem-se fisicamente sem qualquer tipo de justificação. Todavia, no dia seguinte, ao se encontrarem, riam e lembravam a noite anterior com um gozo incontrolável. E a amizade fortalecia-se ainda mais.

Daquela vez, porém, tudo iria passar-se de forma adversa:

Depois de terem conseguido abrir o «Fiat 127», sem quaisquer problemas, tomaram a direcção de Lisboa.

Como sempre, Ivo Marrafa era o condutor da viatura, pois para além de ser o mais velho do grupo, só ele sabia conduzir. Ao seu lado, talvez por ser o mais astuto e audacioso, seguia, como era habitual, o Manuel Cenoura. Finalmente, no banco de trás, sem nunca ter levantado objecções quanto a esta questão, visto também ser o mais novo, ia Zé da Naifa.

Como das outras vezes, também esta noite não fugiu à regra. Beberam, brigaram num dos imensos bares da cidade, percorreram ruas sem atractivos decentes e no regresso os insultos começaram.

Ao contrário do costume, as palavras eram providas de uma raiva obscura, que a cada quilómetro de estrada percorrida, se ia acentuando misteriosamente.

Já próximo de casa estacionaram, mas devido à discussão que entretanto atingira um grau elevadíssimo, permaneceram no interior do automóvel.

Na confusão que reinava, por entre injúrias desordenadas, uma mão portadora de ódio acumulado foi embater violentamente no alvo que escolhera.

Um som agonizante, depois o silêncio. Estava encerrada a questão.

Saíram apressadamente com o pânico estampado no rosto, enquanto atrás deles a porta do carro se fechava com um cadáver no colo.

A polícia atraída pela toada incessante, que entretanto abalara o local depressa apanhou os fugitivos. Enquanto um agente de arma em punho os fazia obedecer, um segundo aproximou-se do «Fiat 127». Abriu a porta, levantou a cabeça do vulto que aí jazia e fixou demoradamente a navalha espetada no lado esquerdo do peito da vítima.

No silêncio que agora embalava as redondezas só as luzes rotativas do carro policial acordavam sonhos e fantasias desfeitas.

Na esquadra, a cortar a tensão existente, alguém perguntou, olhando os dois amigos:

– Quem foi?

Então, vagarosamente, um deles levantou a cabeça, estendeu o braço, e com o indicador apontou:

 – FOI ELE!…

 

Pergunta-se:

– Qual dos três foi o autor do crime?

– Quem foi a vítima?

– Diga quais são os pormenores que o texto revela, para se chegar a essa conclusão.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO