Autor

Johnny Hazard

 

Data

25 de Novembro de 2011

 

Secção

Correio Policial [8]

 

Publicação

Correio do Ribatejo

 

 

UM CADÁVER AO SOL

Johnny Hazard

 

Aquele corpo em calção de banho, deitado no areal, barriga para baixo, braço direito estendido na direcção do mar, mais parecia um banhista gozando as delícias do sol estival, aguardando transporte para a morte.

De volta do corpo, podiam ver-se alguns objectos de uso pessoal, próprios de um veraneante, de óculos de sol, toalha, sandálias e uma revista de palavras cruzadas.

A areia ligeiramente húmida, mostrava que a maré na sua vazante rondara pouco tempo antes a zona onde se encontrava o corpo. Várias pegadas ao redor e por trás do cadáver, formavam um autêntico labirinto de montículos sem qualquer significado.

Contudo, e na frente do morto, mais propriamente na zona alcançada pelo braço estendido do falecido banhista, onde a areia era lisa e húmida notava-se distintamente um estranho arabesco que o certamente o morto escrevera instantes antes de deixar “este vale de lágrimas”. Uma espécie de buraquinho, seguido de uma seta apontando o mar, eram, naquele momento, as grandes interrogações que fervilhavam na mente do Inspector Tempestade.

Dado que a zona de areia húmida estava distante da areia seca (onde se encontravam os já referidos objectos), cerca de dois metros, facilmente se deduzia que o morto apenas precisou de estender o braço para gravar com algumas possibilidades de êxito, a sua derradeira mensagem.

Tudo isto, pensava Tempestade, enquanto ia remirando a mancha de sangue que, já coagulado, tapada quase por completo o negro e largo orifício, situado a meio das costas do cadáver.

Não restam dúvidas, Sargento Serra – disse por fim o Inspector – a vítima foi de frente, quando se encontrava de pé, ou de bruços, altura em que, estendendo o braço, procurou deixar-nos como que um S.O.S.! Qualquer coisa que referenciasse o verdugo que, certamente, viu! Pode mandar levantar o corpo e mande-me o mais rapidamente possível, todas as fotografias que aqui se tiraram, bem como uma lista de todas as pessoas com quem o morto privara nestas férias e nesta praia.

Sentado na sua mesa de trabalho, e depois de ter passado os olhos dúzias de vezes pelas fotografias tiradas na praia, especialmente por aquelas onde, através de ampliação, se podia distinguir perfeitamente o desenho da areia, encontrado em frente da mão. Tempestade pegou finalmente na lista de pessoas das relações do morto:

JOHN MURPHY – 23 anos, solteiro, estudante, amigo do morto.

JERRY CANNOLY – 30 anos, casado, velejador, companheiro de hotel da vítima.

NANCY WATSON – 22 anos, solteira, hospedeira do ar, íntima do falecido.

EUGENE ARROW – 27 anos, solteiro, piloto comercial, amigo e companheiro do morto na mesma companhia aérea.

STEVE O’SULLIVAN – 30 anos, casado, mergulhador soldador, amigo e companheiro da vítima.

Posso mandar entrar o pessoal suspeito, Inspector? – perguntou o Sargento pelo intercomunicador, interrompendo o largo sorriso que começava a esboçar-se no rosto de Tempestade, sinal evidente que já detectara qualquer coisa.

Talvez não seja necessário, Sargento – retorquiu Tempestade. – Pode mandar embora quatro deles e deixe apenas ficar…!

Ah, outra coisa Sargento: diga aos que partirem que providenciem no sentido de mandar alguma roupa, pois que o elemento detido vai precisar delas durante bastante tempo!

 

Pergunta-se: – Quem ficou detido?

– Dê livre curso às suas deduções, explicando convenientemente os motivos da detenção.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO