Autor Data 13 de Maio de 1976 Secção Competição Prova nº 13 Publicação Mundo de Aventuras [137] |
O CASO DO PUNHAL DESAPARECIDO Júlio Soares Há
uma hora que chovia. Por isso, João aproveitou para ir consultar o médico.
Quando lá chegou, cumprimentou os presentes, na sala de espera com um
«bons-dias» geral. Deu uma vista de olhos pela sala e viu que lá estavam
presente 3 homens: um, de idade avançada, os outros dois de meia-idade.
Escolheu uma cadeira e sentou-se. Esperou assim um quarto de hora.
Impaciente, pergunta a um, que esperava numa cadeira ao lado da sua, há
quanto tempo tinha chegado. –
Fui o primeiro, aí há uma meia hora que cheguei – responde. –
Não reparou se o médico já chegou? –
Sinceramente, não. Tenho estado distraído com a conversa daqueles dois – e
apontou com a cabeça o homem já velho e o outro. João olhou para eles e
notou, com um sorriso, que tinham as calças tão molhadas como as dele
próprio. Levantou-se
e perguntou à empregada: –
O sr. dr.
já chegou? –
Já, mas mal chegou foi para o consultório, arrumar umas amostras que lhe
enviaram. João
dirige-se à porta do consultório e bateu-lhe com os nós dos dedos. Nada. Bate
mais forte. Sempre um silêncio absoluto como resposta. Preocupado, toma
balanço e mete a porta dentro com o ombro. O
médico jaz no chão. A
garganta, cortada, tinha ensopado a bata de sangue. Este, coagulado,
completamente seco, já não aderiu quando João tocou, com o dedo, no enorme
golpe, que dividia o pescoço do cadáver. Pormenor
curioso, não se via nenhuma faca ou outro objecto
cortante por perto… Volta-se
para a empregada, que assoava o nariz num lenço com marcas de sangue. –
Oh!... o que haviam de fazer ao pobre sr. dr.….
Mas, está a olhar para mim… Não vá pensar que o matei – gracejou. – Foi uma
ferida que ontem limpei a um miúdo. Fitando-a,
volve-lhe: –
Não me ocorreu isso. Só lhe queria, no entanto, perguntar se alguém se
ausentou da sala de espera? –
Sim, aquele velhote. Há vinte minutos foi à casa de banho. –
Mais ninguém? – ainda inquiriu, enquanto se
aproximava da saleta. –
Não. –
Tem telefone, não tem? Então chame a Polícia quanto antes e informe-a do que
se passa. Entrou
na sala de espera e reparou nas marcas de lama que sujavam a alcatifa perto
dos dois homens, que alheados ainda conversavam, e também debaixo da sua
própria cadeira. –
Veio de carro? – perguntou ao seu interlocutor de há
momentos. –
Não – respondeu, enquanto João, distraído, olhava para as calças bem vincadas
e enxutas que o outro envergava, assim como para os seus sapatos,
esmeradamente engraxados –, a minha mulher levou-o quando foi às compras,
hoje de manhã cedo. 1
– Quem foi o assassino? 2
– Teve cumplicidade com alguém? 3
– Baseie as respostas.
|
|
© DANIEL FALCÃO |
||
|
|