Autor

Juve

 

Data

26 de Novembro de 1981

 

Secção

Mistério... Policiário [331]

 

Competição

Torneio “Do S. Pedro ao Natal”

Problema nº 9

 

Publicação

Mundo de Aventuras [424]

 

 

O CASO DA LIBÉLULA DE HONG-KONG

Juve

 

Juve, depois de algumas semanas de férias em terras portuguesas, acaba de chegar novamente a Paris onde, de há uns anos a esta parte pertence aos quadros permanentes da Sureté. Sobre a sua mesa de trabalho estavam numerosas cartas, vindas dos mais variados destinos, assim como alguns telegramas, que estavam ali «retidos»… Foi precisamente por eles que Juve começou. Nada de importante, nos três primeiros, mas o quarto despertou-lhe a atenção, já que era um telegrama «URGENTE» e tinha a data daquele dia. Juve murmurou: «Isto é que é preciso ter sorte, com certeza mais um caso. Qualquer dia faço um horário de trabalho». O telegrama pedia realmente, para ele se apresentar, num jornal da cidade, onde algo faltava. O jornal era «A GAZETA», e ficava no boulevard Paris – St. Germain, nº 598 e era seu director o italiano Pietro Angeli.

– Táxi… Táxi… – chamou Juve – boulevard Paris –St. Germain, nº 598. Trabalho da Sureté – concluiu ele.

Lá chegando, procurou a sala da redacção. O prédio era velho e apresentava vestígios de ter passado por algumas intempéries…

– Faça favor… instale-se confortavelmente – disse um cavalheiro forte, o sr. Pietro.

Foi então que Juve reparou num sujeito que, de costas voltadas para ele, escrevia. Aquela figura era-lhe familiar…

– Fandor!… És tu… Fandor…

O homem voltou-se. Era realmente o jornalista do jornal «A CAPITAL» que ali estava.

– Mas o que fazes aqui? Julgava-te na Bélgica.

– Pois é… mas como sou uma pessoa que não pode estar parada e quando soube deste caso, tratei de vir até aqui o mais rapidamente possível.

– Mas como?

– Sabia que chegavas hoje de férias, e por isso passei pelo teu gabinete; tu não estavas e olhei para os papéis que estavam na tua mesa de trabalho. Vi os telegramas e como este era o único que me parecia tratar de um caso, e como tinha morada, resolvi vir até aqui. Vim de moto, e enquanto tu estavas no engarrafamento por causa do rebentamento da conduta de água, eu ultrapassei-te e… cá estou, mas para te ser sincero ainda não consegui nada de válido. Trata-se de mais um roubo vulgar… Deviam ter dado isto ao outro inspector. É demasiado fácil, vais ver.

– É demasiado fácil, mas tu ainda não conseguiste nada… Por falar nisso queria falar com o sr. Pietro – disse Juve, voltando-se para uma bonita rapariga que ele supunha ser a secretária do redactor e director do jornal.

Uma figura corpulenta apareceu à porta. Aliás Juve já o conhecia, porque tinha sido aquele indivíduo que o tinha aconselhado a «sentar-se confortavelmente»…

– Por favor, conte-me tudo. Necessito de todos os pormenores.

Pietro Angeli narra como a sua escrivaninha fora forçada e de onde lhe tinham tirado diversos objectos, entre os quais um anel de diamantes.

– O roubo deve ter sido cometido antes do início da impressão do jornal. Nessa altura reina grande confusão e desordem… uns entram ou saem, empurram-se, gritam, trazem montões de papel e material, etc.

Enquanto Pietro fala, Juve e Fandor ouvem, nitidamente o ruído das máquinas impressoras trabalhando na edição do dia.

– Tem alguma lista completa do que lhe falta? –perguntou Juve.

– Sim – diz Pietro, que lhe entrega uma folha de papel.

Juve lê enquanto ele vasculha as gavetas.

A certa altura Juve exclama: «Você tem suspeitos? Preciso de saber quantas pessoas entraram aqui. Não se esqueça de mencionar as vezes que elas entraram e saíram. Dê-me a lista que eu daqui a dois dias volto cá».

Juve, quando se prepara para sair, repara que Pietro fica de repente branco…

– O que se passa?

– Só agora reparo que me falta uma libélula que eu comprei em Hong-Kong.

Juve acrescenta mais este objecto no fim da lista dos desaparecidos, mas nesse momento entra um rapaz com um exemplar recém-impresso.

– Sou um homem de notícias! – diz Pietro a sorrir. – Verá a notícia do roubo na pág. 2. Forneci os detalhes a um redactor e ele compôs a história em cinco minutos. Como vê, tudo é possível no meu jornal!

Juve e Fandor, passam uma vista de olhos e param no relato do roubo. Comparando a lista e o jornal, Juve chega à conclusão de que elas são absolutamente idênticas. Vira-se para Pietro e diz-lhe: «Desejava falar com a sua secretária, com a pessoa que compôs a notícia e com o porteiro do prédio. Acho que tenho algo a perguntar-lhes».

Pietro vira-se para Fandor e diz:

– Este inspector deve ser doido de todo. Primeiro pede-me a lista das pessoas que aqui entraram. Pelos meus cálculos, já saíram e entraram mais de trinta, e agora pede-me para falar só com três. Cada vez percebo menos, mas em todo o caso é melhor fazer o que ele me pede… se não ainda pensa que eu estou a esconder alguma coisa.

Fandor assente com a cabeça e ainda diz que é preciso estar sempre do lado da Justiça.

Juve depois de esperar uns bons vinte minutos acaba por conseguir falar com a secretária. Esta pouco ou nada lhe adianta. Entrou e saiu umas quatro ou cinco vezes, mas afirma peremptoriamente que não mexeu nas gavetas. É depois a vez de falar com o «segundo redactor» (já que o primeiro era Pietro). Este diz-lhe precisamente aquilo que o redactor-director lhe havia dito quarenta minutos antes. Disse que tinha «dado vida» à notícia, de forma a que ela fizesse viver o leitor. Também o porteiro nada de novo trouxe às suas investigações.

Então Juve dirige-se a um telefone e disca um número. Do outro lado responde-lhe uma voz feminina:

«Sureté de Paris…»

– Aqui Juve, por favor ligue-me ao departamento Azul – três minutos de espera decorreram até que este silêncio foi quebrado. – Alô… Frank Klaus? Aqui é Juve, olha, por favor, passa um mandato de captura em nome de… e manda um guarda vir cá trazer-mo. Não te esqueças de não o assinar. Eu é que quero ter essa «honra», mas não demores muito.

Passados dez minutos, um guarda ainda novo chega à redacção do jornal com o mandato de captura. Juve assina-o e voltando-se para Fandor diz:

– Claro como a água. Você tinha razão, isto foi fácil de mais. Assim até nem vale a pena ser inspector. Qualquer dia vou para bibliotecário.

– Bem, vamos embora, nada mais temos a fazer aqui. Os «freaks» (nome dado pelos franceses aos vulgares polícias), cuidarão do resto.

 

1 – Para quem acha que Juve mandara passar um mandato de captura?

2 – Justifique completamente a sua resposta.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO