Autor

Juve

 

Data

16 de Março de 2012

 

Secção

Correio Policial [24]

 

Publicação

Correio do Ribatejo

 

 

Solução de:

NÃO VALE A PENA MATAR

Juve

 

Bastante ingénuo foi, na verdade, o depoimento prestado por Jorge Antero; tão frágil e contraditório que não podia passar despercebido ao espírito arguto do Inspector, rotinado no contacto com indivíduos que procuram ludibriar a Lei e a Justiça, supondo fácil a tarefa.

Afirmou textualmente que “fora ele que na véspera recebera pessoalmente a carta das mãos de uma pessoa (…) e a entregara a seu tio (…) que não a abrira à sua frente…

Daqui se conclui a mais importante falha da sua imperfeita encenação, porquanto, se aquele NÃO ABRIU A CARTA é porque esta se encontrava – aliás como seria lógico e natural! – fechada num envelope e portanto, se DOBRADA dentro deste, com VINCOS.

Ora nós sabemos que ele, aquando da sua “encenação de suicídio” “…tirou uma folha do bloco de cartas, escreveu numa letra redonda (…) e colocou a folha ao lado esquerdo da vítima”. Logo, UMA FOLHA LISA, SEM DOBRAS, acabada de arrancar de um bloco.

Reconheceu que estivera prestes a cometer uma tremenda imprudência ao (quase) deixar lá o bloco de que se tinha servido, mas esquecendo-se de DOBRAR A FOLHA QUE ESCREVERA, condenando-se assim de forma irremediável. Isto porque, sendo carta escrita no local – já que ninguem entrega cartas sob a forma de uma folha completamente aberta – e afirmando tê-la recebido PESSOALMENTE, a contradição é evidente… De resto, se o tio “não a abrira à sua frente”, como declarou, como podia Jorge Antero ter afirmado, depois, que aquela era A MESMA que recebera na véspera?

E desde quando é que os chantagistas vão pessoalmente entregar as cartas ameaçadoras a casa das suas vítimas, e as dão à primeira pessoa que ali lhes aparece?

Afirmou que “…tinha agora a certeza de que (a pessoa que entregara a carta) vinha disfarçada”. Como pode alguém que desconhece outrem afirmar que a mesma vem disfarçada?

E, finalmente – pois tornar-se-ia fastidioso e desnecessário referir os vários outros pormenores existentes – se Jorge Antero descobre o corpo e toma conhecimento da carta, como pretendia fazer crer nas declarações ao Inspector, porque diz a este, depois, que “não descansaria enquanto não visse castigado o assassino”, se por outro lado lhe diz que “…estava convencido até que motivado por isso o seu tio se suicidara”?

© DANIEL FALCÃO