Autor Data 23 de Maio de 2010 Secção Policiário [982] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2010 Prova nº 4 (Parte I) Publicação Público |
Solução de: NA ÚLTIMA FRONTEIRA Karl Marques Bom,
hesitei bastante antes de propor um problema que tomasse como base uma série
de ficção científica (Star Trek). Mas optei por
apresentar na mesma a proposta. Os
três portadores de armas têm discursos que não encontram confirmação nos
testemunhos dos outros dois. Comecemos
pelas horas: todos dizem que estiveram juntos no bar mas: Gyaff diz que esteve no
bar a partir das 17h00, mas às 18h00 já não estava no quarto da vítima, com
ela. Suap diz que esteve no
bar das 17h00 às 18h00, que aí ainda se cruzou com a vítima. Portanto, a
vítima, às 18h00 ainda não estava no quarto. Passav,
por sua vez, diz que esteve na companhia dos outros dois durante hora e meia,
a partir das 17h00. Ora, uma hora e meia daria 18h30. A esta hora Gyaff e Suap dizem que já nem
estavam no bar, e que Gyaff já tinha ido até ao
quarto da vítima. Estaremos perante um indício sério de que o crime foi
cometido por Passav? Talvez. No
entanto continua a existir a divergência entre Gyaff
e Suap. Na
primeira resposta de Passav duas coisas dignas de
registo surgem: –
Por um lado o facto de dizer descobrir surpresa na reacção
de Mavock: Mavock é vulcano, espécie conhecida pelo seu espírito lógico e
ausência de exibição de emoções. Um vulcano a mostrar
surpresa? Para mais na investigação de um homicídio… Então, porquê o
comentário do Marsulan? Porque ele próprio já
esperaria essa surpresa? Já sabia que o que estava a dizer ia chocar com
outras declarações? Como saberia ele disso? –
Por outro lado, à pergunta “Esteve hoje no quarto da vítima?”, ele responde,
de uma vez só, a várias perguntas: 1º se esteve; 2º quando esteve; 3º a razão
da visita; 4º o estado de espírito da vítima; 5º que foi a última vez que o
viu; 6º onde tinha estado, com quem e durante quanto tempo. Muitas respostas
para perguntas ainda não feitas, mas que Mavock de
facto queria fazer, pois fizera-as também a Gyaff.
Mais curioso ainda, responde pela mesma ordem pela
qual Mavock tinha feito as perguntas a Gyaff. Como poderia ele saber? Apenas se Gyaff lhe tivesse contado. Existe
ainda outro ponto a unir Gyaff e Passav: Gyaff diz que a vítima
tinha descoberto a fórmula resolvente para 5º grau. Ora tal, está demonstrado
desde o século XIX, é impossível. Essa fórmula existe, e apenas existirá, até
ao 4º grau. Ora, no papel no quarto de Passav:
temos “0,1,2,3,4 há” que são precisamente os graus para os quais existe
fórmula, e depois “5,6,7,8,9,10... não”, pois partir
de 5 não há nem haverá. Foi Passav quem deu a
informação a Gyaff, para que este,
propositadamente, desse uma informação que nunca poderia ser verdadeira. O objectivo dos dois é apenas baralhar Mavock
o tempo suficiente para que estes possam sair da nave. Ao lançarem várias
pistas incoerentes e inconciliáveis, procuram que este tenha muito com que
entreter o pouco tempo disponível. Gyaff compromete-se de
imediato com a questão da fórmula resolvente. Passav
com a questão do tempo que não é confirmada por nenhum dos outros. Lançam
também Suap para a confusão: roubam-lhe a faca, para
que exista mais um suspeito. E Gyaff faz algo mais:
ao sair do bar, pouco depois de Suap, viu a vítima
a conversar com o Comandante Data, como tal, Suap
também o tinha visto. E assim incluiu o detalhe da “inteligência artificial”.
Sendo o Comandante Data um andróide, seria estranho a vítima estar a falar com ele se tivesse
alguma espécie de aversão à inteligência artificial. Ao incluir este detalhe
contribuía para mandar também Suap para a confusão,
quando este desse o testemunho. Os
culpados foram dois: Gyaff e Passav. |
© DANIEL FALCÃO |
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