Autor Data 18 de Janeiro de 1979 Secção Mistério... Policiário [200] Competição Torneio
“Detective Misterioso" Problema nº 1 Publicação Mundo de Aventuras [276] |
VODKA E PIMENTA… Kha-Thas-Thró-Fico Conversaram
descansadamente, como o fazem tais grupos, procurando em cada tópico um ponto
de apoio para alguns epigramas que pudessem ter na moeda verbal do grupo: o arquitecto Remires, o anfitrião, era um homem sempre em
atitude defensiva de explicação, o qual apoiava os cotovelos na mesa e
mantinha as mãos diante do nariz longo e quase perpendicular, gesticulando
com os dedos; o pintor Sarmento, de gestos exuberantes, decadente,
tipo exótico, lunetas de aro presas por uma fita de seda negra que lhe
descia pela barba curta e pelos bigodes de oficial de cavalaria; Garcês, um
crítico que preferia ser conhecido como mundano, baixo, febril, incisivo, que
destruía lugares-comuns com um adjectivo e marcava
uma reputação com três; por último, Quaresma, ilustrador de profissão,
comprido e magro, com uma eloquência de pregador que acometia qualquer tema,
isolava-o, cercava-o, e o varria com descargas de sátira e ditos de espírito.
Estavam
todos reunidos no salão da enorme casa, tal como acontecia quase todas as
semanas. –
Antes de passarmos à sala de jantar, sugiro uma bebida como aperitivo –
disse, amável, o anfitrião. – Acabo de receber de um amigo uma «vodka» que
disse ser uma especialidade. Aproveitemos a oportunidade paro abrirmos a
garrafa. –
Desculpa-me, Ramires, mas prefiro não tomar nada antes do jantar – desculpou-se
Quaresma. –
Para mim, também não! Bem sabes que não toco em bebidas alcoólicas – avisou
Sarmento. –
Bem, Garcês, parece que vais ter tu a honra de provar
esta especialidade de «vodka» campestre, já que o meu fígado mo não permite –
disse, sorridente, Ramires. –
Não digo que não! Uma boa «vodka» ao natural vem mesmo a calhar – disse Garcês
lá do fundo da sala onde estava «afundado» num confortável sofá. Depois
de abrir a garrafa, Ramires encheu 3 dedos do copo, que passou para a mão de
Quaresma que por sua vez o cedeu a Sarmento. Este finalmente foi entregá-lo
ao crítico. –
Não sei como podes apreciar tal bebida… Mas se te apetece, bom proveito! – disse Sarmento em tom depreciativo. Já
acostumado a estes comentários do pintor, sorriu e levou o copo aos lábios. –
O jantar está servido! Todos
olharam para a porta do salão onde se encontrava Henrique, o mordomo. –
Pois então passemos à sala de jantar, meus senhores – convidou o anfitrião. –
Então vens ou não, Garcês? Todos
olharam para o fundo do salão, mas o que viram deixou-os estupefactos. O
corpo de Garcês pendia, inerte… Era um corpo sem vida! O
relatório da autópsia era concludente: a morte tinha sido provocada por
envenenamento! E o veneno tinha sido óleo de fuel,
muito provavelmente ministrado numa bebida. Tendo
tomado conhecimento do relatório da autópsia e dos depoimentos de Ramires,
Quaresma e Sarmento, o inspector Mário Zamith disse em tom melancólico: –
Se eu estivesse no lugar de Garcês a esta hora não estaria morto. Bastariam
uns grãos de pimenta… Posto
isto, pergunto: 1
– Como explicar a morte de Garcês? Houve «culpado»? 2
– Explique o que quis dizer o inspector naquele tom
melancólico? |
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© DANIEL FALCÃO |
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