Autor Data 15 de Novembro de 2008 Secção Competição Problema nº 2 Publicação O Almeirinense |
Solução de: UMA LÁGRIMA NO ROSTO DA RAINHA… L. S. O
elemento fundamental inserido na roupagem do problema veículo “despoletador”" da descoberta da verdade reside na
discrepância do que se diz e não poderia ser dito por ser somente do
conhecimento dos investigadores e do bilheteiro da Estacão da CP. Para além
deles só estaria ao alcance dos autores directos ou
indirectos (cúmplices) do acto
criminoso! A
– Assim, temos o autor material do crime – dr.
Joaquim Gonçalves! Diz a certo passo “…mas agora não vejo como se pode
concretizar o negócio com o desaparecimento da pasta com os papéis…” Como
poderia ser do seu conhecimento terem a pasta e os papéis desaparecido se no
texto, na sua esfera pessoal, nada, nem ninguém se menciona como sendo o
transmissor de tal informação a ele mesmo, Joaquim Gonçalves? A notícia da
morte do doutor Santiago é-lhe fornecida pelo Jorge dos Pensos apenas dela ter ocorrido nessa manhã na Estação Nova da CP… Sem
acrescentar qualquer outro dado. B
– Cumplicidade moral clara com o seu colega de escritório, também estagiário,
dr. Robalo Cordeiro, quando JG refere “ter a morte
do doutor os deixado (aos dois) profundamente consternados e desorientados”
quando de seguida RC chegando ao escritório na altura em que o Inspector M já ali se encontrava, pelas 15h15, mais de 8
horas depois da morte do patrono e pelo que revelara, depreendia-se, estivera
toda a manhã nas Finanças…, não ter revelado tal estado de espírito
específico. Como é que igualmente estaria consternado e desorientado?
Dialogaram pelo telemóvel? Assumiram a consternação dessa forma? Onde está a
referência ao diálogo entre ambos nessa manhã? O que se ouve da boca de RC
unicamente aponta para alguém anónimo, na repartição de Finanças, o ter
colocado a par, de uma forma genérica com certeza, da morte acontecida.
Porque não abandonou as finanças no tempo útil logo a seguir ao conhecimento
da notícia, a inteirar-se, quando o morto tinha o peso que tinha na sua vida
profissional? Comportamento muito estranho e suspeito… C.1
– A única testemunha “ouvinte” – coloquemos a coisa nestes termos – de alguém
a caminhar para os lados da WC naqueles minutos antecedendo a morte do doutor
Santiago, existe e chama-se Apolinário dos Anjos, é o “nosso” vagabundo.
Descreve ter ouvido na sua sonolência, claramente sem se encontrar em sono
profundo tal como o texto nos indica ao mencionar “remoendo os maxilares qual
bovino mastigando”, no bater de uns passos irregulares do género tap-tloc – embora por figura de estilo o autor o ponha a
mencionar no imponderável de não assegurar se realmente teria ouvido ou fora
confundido no “estertor” do sono… Pois bem, aparentemente apresenta-se como
um elemento com alguma solidez pois ajusta-se a alguém se movendo a coxear –
dois sons distintos tap e tloc
– e a movimentar-se para lá e para cá! Ora, a vítima, o doutor Santiago, só
foi para lá e já não veio para cá, a empregada de limpeza foi para lá e ali
ficou até ao seu grito vir a alertar todas as pessoas da Estação A naquele
momento…, logo, há que equacionar, inevitavelmente, em sons produzidos pelo
homicida. Assim sendo, então, seguiu para a WC, consumou o crime e regressou
no sentido inverso, dirigindo-se à saída da estação… Sobre essa
característica, podemos afirmar com margem de segurança, até para clarificar
todos esses pormenores, o doutor Santiago, como o texto refere, ia seguindo
no “seu passo suave e compassado” e “bamboleante” atribuída à observação
feita ao dr. Joaquim Gonçalves pelo Inspector quando aquele se dirigiu à máquina a servir os
dois cafés. Este coxear encaixa em perfeito na definição do som ouvido pelo
vagabundo. Indício a fortalecedor da dedução sobre a autoria do homicídio. C.2
– E, na mesma ordem de ideias, outro indício se perfila recaindo sobre JG
quando o texto nos refere “…um golpe (de faca, navalha ou punhal) executado
por mão experiente e sabedora…” vindo nós a saber através do narrador ter
andado ele na sua adolescência (e até ao momento em que veio para Coimbra
tirar o seu curso…) a ajudar o pai como magarefe – aquele que mata ou esfola
reses – concluímos na probabilidade dele haver sacado daí conhecimentos
específicos para poder atingir um órgão vital com objecto
corto-perfurante de forma a causar uma morte rápida e eficaz. C.3
– O facto do corpo não ter apresentado qualquer
outra ferida ou contusão quando foi observado no IML, igualmente, levava o
investigador a considerar ter sido retirada a corrente sem violência do pulso
do cadáver do doutor Santiago quiçá sendo utilizada a própria chave que ele
deveria levar consigo ou mesmo com algum duplicado existente no escritório,
por conseguinte, nada tendo a ver com um roubo vulgar como o criminoso nos
parece querer encaminhar. Contudo, não só pelo desaparecimento da pasta como
pela carteira largada na aba do casacão do vagabundo – e tais declarações do
vagabundo parecem, assim, ter algum acolhimento como verdadeiras – se observa
ser o conteúdo da pasta a razão fundamental para ter ocorrido aquela morte.
Se tivesse sido o roubo de dinheiro ou valores facilmente fungíveis, o
verdadeiro objectivo a atingir, não teria sido
deixada ali a carteira mas ficaria certamente a pasta. Quem
sabia da existência de tais papéis, onde eram transportados, a sua
importância e a quem interessariam…? Naturalmente aos dois estagiários!
Sabiam o real valor do que estava em causa. É óbvio que a investigação dos
homens da PJ se iria virar para Lisboa nos dias seguintes e alguém se
plantaria na sede da Comissão de Valores Imobiliários de forma a poder detectar quem se apresentava a registar tão valiosos
papéis. O que se ia passar a seguir, adivinha-se… Quanto
ao despiste de eventual suspeita da autoria da morte por parte do referido
vagabundo, Apolinário dos Anjos, utilizando a navalha de ponta e mola…, o
exame de vestígios biológicos à mesma faria a sua exclusão ou não, bem assim
como o exame detalhado do golpe, sua profundidade, extensão e latitude. A
intervenção do vagabundo aparentemente no fulcro da questão pelas razões
aduzidas atrás e também como cortina de fumo para despiste de alguns
incautos, foram estrategicamente ali colocado dando um cariz “paisagístico e
folclórico” a toda a estória, como se depreende. |
© DANIEL FALCÃO |
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