Autor Data 22 de Julho de 1992 Secção Policiário [22] Publicação Público |
O INSPECTOR FIDALGO ATURA O LOBÃO Luís Pessoa Não há dúvida que o Lobão
continua a inventar crimes e enigmas capazes de fazer perder a paciência a um
santo, quanto mais a um indivíduo farto de aturar aldrabices e desculpas
estafadas, como era o caso do inspector Fidalgo. Mas, enfim, havia qualquer
coisa no Lobão que atraía o inspector e que o fazia ouvi-lo com mais ou menos
atenção, de um modo relaxante, já que sabia que dali não havia nada a recear.
Tardara um pouco a descobrir que era inofensivo e que a mentira estava na
massa do sangue. – Ó senhor inspector, em
Inglaterra é que aquilo é bom! – O quê? Estiveste lá? – É verdade… Vi muitas
coisas giras, o palácio da rainha, o Big Ben, eu sei lá que mais… Fartei-me
de andar, de viajar, foi mesmo uma beleza. – Quanto tempo é que lá
estiveste? – Mais de um mês. Estive em
casa da minha prima, em Londres, e depois aluguei um carro e andei por todo o
lado, sempre a passear. – Custa-me um bocado a
acreditar, mas enfim, se tu o dizes… – É verdade, juro… – Bem, está bem, não se
fala mais disso… Ao menos desta vez não vens com a mania de que viste crimes
e criminosos por todo o lado. Já é um avanço… – Não vi crimes nem
criminosos, mas a verdade é que estive quase, quase a ser preso! – Preso tu! Porquê? – Ainda eu não sei bem
porquê! Ia muito bem por uma estrada de bastante movimento, nas calmas, sem
excesso de velocidade nem nada, quando uma brigada da polícia me mandou
parar. Claro que estacionei de imediato, porque nessas coisas eu não me deixo
levar pelas manias de fugir e, de mais a mais, não tinha nada a temer. – Vá, então, porque foi? –
O inspector estava já um tanto impaciente e curioso. – Imagine só que íamos
todos a andar em bicha, mas a uma velocidade razoável, e o polícia alegou que
eu tinha ultrapassado uma carrinha pela direita e que isso era uma manobra
perigosa e não sei que mais… Vi-me e desejei-me para não ser multado… Mas
isto é verdadeiro, inspector, juro-lhe que eles são um milhão de vezes mais rigorosos
do que os nossos cá! O inspector sorriu… A – O Lobão estava a mentir
porque nunca poderia conduzir um carro em Inglaterra, por ser português. B – O Lobão mentiu porque
nenhum polícia o ia mandar parar por essa infracção. C – O Lobão mentiu porque não
podia estar mais de um mês. D – O Lobão, contra o que é
habitual, falou a verdade e tudo se processou como ele afirma. |
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© DANIEL FALCÃO |
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