Autor Data 26 de Julho de 1992 Secção Policiário [26] Publicação Público |
O INSPECTOR FIDALGO E O CAROCHA AMARELO Luís Pessoa A Primavera apresentava-se
quente, como que adivinhando o Verão e a praia que já espreitavam na esquina
do tempo. Era a época de que o inspector Fidalgo mais gostava, embora fosse
quase um lugar-comum, já que quase toda a gente é dessa opinião. Mas aquele dia era
diferente ou, pelo menos, pretendia sê-lo. Tudo começara com um
interrogatório a um larápio de automóveis que conduziu a revelações extraordinárias,
tais como a de que se iria processar um assalto a um banco na Avenida da
República, não se sabia qual, mas tudo parecia ter sido planeado ao pormenor
e, quase se garantia, ia ser um êxito. O inspector Fidalgo estava
de piquete e avançou com os agentes disponíveis para a avenida, tentando
estabelecer uma estratégia que evitasse o assalto. Não era fácil, tal era a
profusão de agências, mas por um processo de eliminação, tendo em linha de
conta as possibilidades de fuga, quase podia garantir que seria naquele
quarteirão que tudo se iria passar. Após a distribuição dos agentes e a sua
colocação em lugares estratégicos, restava esperar. Foi então que, vindo não se
sabe de onde, um carocha amarelo, descapotável e com
aparência desportiva, estacionou mesmo diante do banco, em local interdito,
saindo do seu interior um indivíduo de meia-idade, pardacento, que se dirigiu
ao banco. Ao volante ficou uma moça de beleza indiscutível que, num gesto
cada vez mais frequente na cidade de estacionamento infernal, abriu o “capot” do carro accionando um qualquer mecanismo interior
automático e ficou calmamente ao volante. Sem mais, o inspector
Fidalgo mandou o Abreu, agente de grande porte e pouco cérebro, avisar a moça
de que deveria retirar a viatura dali, imediatamente. Recado entregue, logo o
Abreu regressa com notícias, dizendo que a moça estava ali parada porque o
motor estava com um sobreaquecimento e, portanto, pedia só mais uns minutos
para poder ir embora sem causar problemas… – Então, não lhe sabias dar
a ordem para sair dali? – interrogou o inspector,
perdendo a paciência. – Mas, inspector, coitada
da moça, se o carro está quase a arder… O inspector ia responder
quando se deteve, num momento de meditação, logo mandando avançar os seus
homens… A – O inspector lembrou-se,
de repente, de que já vira o homem que entrou no banco. B – O inspector deu-se
conta de que já vira a moça e reconheceu-a como assaltante de bancos. C – O inspector
apercebeu-se de que o carro não podia estar ali com o “capot”
dianteiro aberto a arejar o motor. D – O inspector teve um
palpite de que alguém estaria a assaltar aquele banco. |
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© DANIEL FALCÃO |
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