Autor Data 27 de Julho de 1992 Secção Policiário [27] Publicação Público |
O INSPECTOR FIDALGO INVESTIGA… Luís Pessoa Nem sempre o que parece é!
O inspector Fidalgo sabia isso há longo tempo e procurava sempre aplicar esse
conceito nas investigações que, por maior dificuldade ou por pouco impacto
sobre a opinião pública, não avançavam com a celeridade que requeriam. Naquela tarde de Agosto,
debaixo de um calor abrasador, um acontecimento veio alterar o ritmo de vida
daquele bairro de subúrbios. Um acontecimento que, provavelmente, não mereceria
mais de duas linhas em qualquer jornal sensacionalista e um número nas
estatísticas de acidentes de trabalho. Eram 16h00 e o Telmo estava
no seu posto de trabalho, num andaime, no 9.º andar de um prédio em
construção. Não soprava uma única aragem e o ar parado provocava uma sensação
de vertigem… – Está bem, talvez eu
devesse ter mandado suspender o trabalho, mas a verdade é que eu tenho prazos
a cumprir e nada fazia prever que o Telmo se fosse abaixo, tanto mais que até
já trabalhara em muito piores condições… – justificava-se o patrão, para quem
a morte do moço não representava mais que uma carga suplementar de trabalhos. Pintor de profissão, Telmo
estava a acabar a pintura da casa quando, sem outro motivo aparente que não
fosse um colapso, caiu para a estrada, num autêntico voo, que o fez estatelar
a quase oito metros da base do andaime onde laborava. O seu colega Fausto estava
com uma aparência abatida e quase em estado de choque. – Não pode ser verdade…
Ainda não acredito… Estávamos os dois no andaime, lá em cima, no 9.º andar, e
quando menos se esperava, o Telmo, aquele homenzarrão de mais de cem quilos,
voou pelos ares e esborrachou-se lá em baixo… Nem posso acreditar… Não me
dava muito bem com ele, tínhamos o nosso feitio, mas respeitava-o e lamento o
que aconteceu… Não vamos poder defrontar-nos outra vez no clube recreativo lá
da terra… É que somos ambos, ou melhor, eu sou e ele era lutador de luta
livre. – Uma pena! – Mas não deu conta de nada
de anormal? – interrogou o inspector. – Não, nada. Só o vi largar
a trincha com que estava a pintar a parede e resvalar da tábua, caindo a
pique, em queda livre, até se estatelar no chão… Aterrador! A – O Fausto drogou o
companheiro para que ele caísse. B – O Fausto empurrou-o,
fazendo-o cair. C – O Telmo estava
embriagado e caiu sem que lhe tocassem. D – O patrão sabotou a
prancha para que ele caísse. |
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© DANIEL FALCÃO |
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