Autor Data 30 de Julho de 1992 Secção Policiário [30] Publicação Público |
O INSPECTOR FIDALGO E O CASO DO ESPANHOL Luís Pessoa Naquele ano de 1987,
decorria o mês de Dezembro, o inspector Fidalgo viu-se envolvido num caso bem
complicado, que metia um polícia português e um cidadão espanhol. Tudo começou quando o
polícia português, Amílcar de seu nome, foi destacado para se deslocar a
Espanha tratar de um assunto que dizia respeito a ambas as partes. No
regresso, quando era portador de documentos especiais para o desmantelamento
de uma importante organização, foi assaltado, roubado e, posteriormente,
assassinado. Ao ser descoberto o cadáver
e numa investigação imediata, verificou-se que o Amílcar havia arrancado um
botão à veste do seu carrasco e, antes de morrer, escrevera no chão arenoso
um sinal que, provavelmente, serviria para identificar o seu agressor: um
“C”. De avanço em avanço, o
inspector Fidalgo conseguiu relacionar uma série de dados. Uma testemunha
vira, entretanto, uma situação caricata quando se deslocava para casa e que
se resumia, mais ou menos, nisto: o Amílcar ia a correr para apanhar um
comboio quando chocou com um tipo espanhol, de nome Carlos. Houve papéis pelo
ar, roupas pelo chão e tempo para uma apresentação informal e rápida. Segundo
a testemunha, que estava muito perto, o tipo espanhol chamava-se Carlos e
logo desatou a correr em direcção do seu carro. Amílcar, meio atarantado com
o encontrão, ficou com um objecto na mão, parecendo (não jurava!) um botão. Esta cena passou-se às 11
horas e ao meio-dia, mais minuto, menos minuto, Amílcar estava morto. Procurado Carlos, este veio
a aparecer, com a maior das calmas, mostrando-se surpreendido por andar um
polícia português à sua procura… Prontificou-se a tudo,
declarou que sim, que tivera um encontro, melhor, um “encontrão” (riu-se
muito da expressão!) com um homem, que não sabia quem era, ficara sem um
botão, era verdade, chamava-se Carlos e não sabia nada de nada… Ele até viera
a Portugal tratar de uns assuntos, tal como fazia todos os meses, porque
vinte quilómetros não são nada, apesar de a estrada ser muito sinuosa e
estreita, mas nada que se não fizesse em meia hora… Sim, ao meio-dia já estava
em Portugal, como se poderia comprovar no departamento do Ministério da
Agricultura onde se deslocara… Podiam confirmar… Era verdade, desde o
meio-dia até ao meio-dia e meia o Carlos estivera no Ministério e nada havia
a vasculhar por ali, mas… Um agente português fora assassinado em Espanha e
não havia que desistir… A – O Carlos não tem nada a
ver com o caso, porque o seu álibi é perfeito. B – O “C” que estava no
chão fora apenas para identificar o proprietário do botão. C – Foi o Carlos o culpado
e o seu álibi não é tão consistente como ele julga. D – O Carlos tem um irmão
gémeo e portanto enganou tudo e todos. |
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© DANIEL FALCÃO |
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