Autor Data 2 de Agosto de 1992 Secção Policiário [33] Publicação Público |
O INSPECTOR FIDALGO E A CHUVA DAS CINCO Luís Pessoa Era curioso como o tempo
estava regular, quase cumprindo horários, dia após dia, naquele mês de Maio. Na verdade, há quase duas
semanas que fazia um bom tempo da parte da manhã, quase convidando a uma escapadela
até à praia, para depois turvar o céu, deixando cair alguma chuva, lá para as
cinco horas da tarde, para logo parar, fazendo brilhar de novo o sol. Era
estranho e as velhas já anunciavam o fim do mundo! O inspector Fidalgo
detestava aquela incerteza. O que ele queria era saber como havia de sair. Se
tivesse de chover, pois que chovesse a bom chover, se tivesse de fazer sol,
que brilhasse como devia ser… Naquele dia, teve de se
deslocar a Cascais, onde numa vivenda debruçada sobre o mar morrera um
conhecido médico. Ao chegar, foi recebido pelo seu colega Barros, que passava
por perto quando tudo se deu. A história conta-se
depressa: Por volta das 18 horas, ouviu-se um tiro no escritório e, quando
todos os presentes na casa acorreram, viram que a porta estava aberta e no
centro do compartimento jazia o doutor Severino, atingido por uma bala no
meio da testa. A janela estava aberta e dava para o quintal, impecavelmente
tratado a todo o comprimento da casa e até ao limite do terreno, mais
precisamente até ao muro que vedava a propriedade. Tinha chovido com
abundância e todo o terreno estava liso, deixando ver a terra negra, no
intervalo dos canteiros recheados de belas flores, de todas as cores… Uma
beleza. O que não era nada belo era
o espectáculo para dentro da janela, com o corpo do doutor deitado por terra. Interrogados os principais
suspeitos, de dentro da casa, declararam que estavam na sala ao fundo do
corredor quando ouviram o estampido. Correram para lá e só viram o cadáver.
Ninguém se lembrou de ir à janela, tal foi o choque. Só o Tonecas, primo do
doutor, não estava com os outros, porque tinha ido à casa de banho, que
ficava mesmo ao lado do escritório, e, quando ouviu o tiro, não pôde ir
imediatamente porque estava ocupado nas suas funções fisiológicas, mas sentiu
alguém a passar a correr pelo lado de fora da janela. Não pôde ver quem era
porque a casa de banho tem vidros fumados, mas viu o vulto a passar,
correndo, possivelmente para entrar em casa pela porta das traseiras. O inspector pensou um
pouco… Não havia qualquer caminho em torno da habitação, só terra e canteiros
de flores… A – O vulto que fugiu pelo
quintal era o do primo do doutor e, portanto, foi ele o assassino. B – O vulto era um
estranho, que disparou e se escondeu no meio das flores para depois fugir. C – Não havia qualquer
vulto e o primo da vítima mentiu para dar nas vistas e chamar as atenções,
porque foi suicídio. D – Não havia vulto nenhum
e o criminoso foi o primo da vítima. |
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© DANIEL FALCÃO |
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