Autor Data 5 de Agosto de 1992 Secção Policiário [36] Publicação Público |
O INSPECTOR FIDALGO RESOLVE PROBLEMA FAMILIAR Luís Pessoa O cunhado do inspector
Fidalgo era um homem muito esquisito, extremamente dedicado à família mas
incapaz de evitar as suas grandes sortidas para pescar, por vezes demorando
uma noite inteira. Foi mais ou menos o que
aconteceu no dia em que o inspector foi visitar a irmã e encontrou um
ambiente muito pesado; de cortar à faca, sem que ninguém se abrisse. Depois de aguentar muitos
remoques e piadinhas, de parte a parte, o inspector Fidalgo teve de
interferir e prontificou-se a funcionar como conselheiro matrimonial. Foi posto ao corrente do
que se passou e tentou fazer de juiz o melhor que lhe foi possível. O cunhado foi, como sempre,
pescar naquele sábado, comprometendo-se, como era habitual, a estar em casa
por volta das 20h. Só que, sem se saber bem porquê, apenas regressou a casa
cerca das 23h. Começaram as recriminações,
houve irritação de parte a parte e, quase sem darem por isso, estavam a
discutir e quase a insultar-se. O cunhado, principal “réu”
na questão, explicou assim o que se terá passado: – Fui pescar, como sempre
faço, logo que posso. Estive muito tempo na praia da Rocha, no paredão junto
à entrada do rio. O peixe não estava a picar e por isso estive por ali muito
tempo, observando os barcos que estavam ancorados ao largo do rio, primeiro
com a proa virada para a foz e depois, algum tempo passado, foram virando,
ficando com a proa virada integralmente para a nascente. É uma das coisas que mais
gosto e não perdoo ver o rio como que mudar de rumo, tal como as formigas vão
e vêm. Com tal panorama, fraco em
peixe e calmo no leve ondular do rio, acabei por adormecer, mais ou menos
quando os barcos viraram em torno do cabo que segura a âncora. Dormi quase
duas horas e mais seriam se, entretanto, não tivesse subido a maré e me
molhasse os pés, fazendo-me despertar… Só que já era muito tarde e, apesar de
ter vindo a correr, já não vim a tempo de evitar as “trombas” da tua irmã. O inspector Fidalgo sorriu
levemente. Nunca tinha ouvido melhor caracterização da irmã em termos de
amuo, mas… A – O cunhado do inspector
contou toda a verdade, e se o mar não dava nada e o ambiente estava calmo, é
perfeitamente natural que tivesse adormecido. B – O cunhado nunca poderia
ter adormecido naquelas circunstâncias, porque um pescador está sempre alerta
e vigilante. C – Os barcos nunca
poderiam mudar de direcção no rio, ali mesmo ao pé do mar e o cunhado mentiu. D – O cunhado nunca poderia
ser acordado pela água ao molhar-lhe os pés, tendo mentido descaradamente
para se desculpar do atraso. |
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© DANIEL FALCÃO |
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