Autor Data 6 de Agosto de 1992 Secção Policiário [37] Publicação Público |
O INSPECTOR FIDALGO E O ASSASSINO DA FACA CERTEIRA Luís Pessoa Para encerrar uma semana de
trabalho, naquele dia em que o inspector Fidalgo começava uma folga, nada
melhor que um assassino de faca certeira… Quando foi chamado, nunca lhe
passou pela cabeça que ainda houvesse quem matasse daquela forma, mas enfim,
havia que tomar conta da ocorrência e, se fosse possível, solucionar o caso. O milionário fora
assassinado e ninguém estranhou por aí além, por um
lado, porque haveria milhares de candidatos a passá-lo para o “outro lado” e,
depois, porque ele parecia divertir-se imenso em dar cabo da vida de todos os
que com ele privavam. Naquele dia tinha dado
ordem a um circo para sair dos seus terrenos, que comprara no mês anterior e
onde o circo costumava ficar há mais de 30 anos. O proprietário do circo, um
atirador de facas, no calor da discussão, ameaçou-o de morte, mas ninguém
ligou sobremaneira… Era só mais um para juntar ao “monte” de candidatos a
assassiná-lo. Só que o milionário foi
morto com uma faca igual à que o homem usava no seu número e com tal precisão
estava enterrada no coração que só poderia, pelo menos à primeira vista, ser
obra de um profissional… E dos bons! Ainda por
cima, uma testemunha
incómoda parecia ter assistido a toda a trama. Vamos ouvi-los, tal como fez o
inspector Fidalgo, apesar deste caso estar “quase”
resolvido. O proprietário do circo:
“Não há direito! Claro que o ameacei e era capaz de o ter morto, mas alguém
se adiantou. Eu não o matei! Repare que há 30 anos que nós vimos para aqui
fazer os nossos espectáculos e nunca nos puseram qualquer obstáculo. Bem pelo
contrário, quase sempre nos escreviam a pedir que viéssemos e nós dávamos
espectáculos para as crianças gratuitamente… Sim, a faca é minha e é daquelas
que eu uso no meu número, mas não fui eu. Então eu ia matá-lo depois de o
ameaçar? Ou o matava logo, então, não o ia ameaçar para mais tarde o matar!
Roubaram-me uma faca, de certeza absoluta, e foi com ela que o mataram…” A testemunha, irmão da
vítima: “Não quero nada com o que se passou, mas a verdade é que eu assisti
ao crime… Não, não gostava nada do meu irmão, que era um verdadeiro carrasco
para as pessoas que lhe caíam na frente, mas tenho de contar a verdade, por
muito que me custe… Sabe, eu adoro o pessoal do circo. É que eu cresci aqui
perto e sei como era importante para nós quando eles vinham para cá!... Mas é
a verdade que está em causa e quem matou foi o proprietário. Por acaso estava
aqui quando ele o ameaçou e depois vi-o entrar em casa, com uma faca na mão e
aproximar-se da porta… Não sei se era essa que me mostra porque a mão dele
tapava todo o cabo, ali mesmo, ao pé de mim… Tive um medo que ele me
visse!... Depois, num gesto rápido atirou a faca, como costuma fazer no
número, e zás… O meu irmão caiu. O inspector pensou e reviu
na memória o artista atirando as facas, pegando pelo gume, com uma precisão
diabólica… A – O artista utilizou a
sua faca, como no seu número, e matou-o à distância, como diz o irmão da
vítima. B – O artista fez de propósito,
para despistar, ameaçando-o em público, porque julgava que não o acusariam. C – O irmão mentiu, porque
a vítima não podia ter sido morta daquela maneira. D – Nenhum deles teve nada
a ver. Foi um terceiro personagem, que não nos é descrito, que o matou. |
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© DANIEL FALCÃO |
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