Autor Data 11 de Agosto de 1992 Secção Policiário [42] Publicação Público |
O INSPECTOR FIDALGO E A CASA DA PRAIA Luís Pessoa Quando o célebre “Tigre da
Bolsa” telefonou ao inspector em nome da antiga amizade dos tempos em que
estudaram juntos e quase foram íntimos, este não compreendeu o que movia um
homem daqueles a pedir ajuda a quem fizera bastante mal, a ponto de cortarem
relações. Agora vinha invocar uma
amizade, que já não existia há mais de vinte anos, para o livrar de
problemas. A primeira reacção foi não
responder ao pedido, mas, depois de pensar um bom bocado e “afogar” o
melindre, acabou por se deslocar ao enorme castelo onde vivia. Depois de um cumprimento
frio, foi posto ao corrente do que sucedera: Do cofre situado no
terceiro andar do castelo, cujo único acesso é uma escadaria de pedra, em
caracol, à boa maneira dos castelos medievais, desapareceram importantes
documentos relativos a movimentos da bolsa de valores, que poderiam, se
caíssem em más mãos, provocar uma revolução nas cotações, fazendo ruir,
inclusivamente, todo o esquema. Tudo levava a crer que fora
por escalamento que o larápio entrara e, azar dos azares, encontrara o cofre
aberto porque o “Tigre da Bolsa” tinha acabado de se ausentar para ir ao
rés-do-chão e não achara necessário fechá-lo. Da janela única
vislumbrava-se um espectáculo soberbo, não só porque estava virada para o
mar, como para aquele lado o mar apresentava uma violência terrível,
empurrado pelo vento forte que sempre soprava de frente… – Mas a janela está fechada
por dentro… – Fui eu que a fechei
depois de aqui chegar e ver que os documentos tinham desaparecido… A chuva batia forte nos
vidros da janela, e quase se adivinhava a ventania e o frio que lá fora, à
altura daquele terceiro andar, se fazia sentir. O inspector encostou-se à
janela e fitou toda a divisão, impecavelmente decorada, para escritório, com
tapeçarias caras espalhadas pelo chão, dando um ar confortável e
reconfortante. Um bom local para se trabalhar, pensou. Depois virou-se para o mar
e observou com atenção as grossas pingas de chuva que esbarravam com
violência nos vidros. Há vários dias que a situação se mantinha e não havia
sinais de melhoras. Chuva e mais chuva… Tentou abrir a janela e
logo foi projectado para trás pela violência do vento e “inundado” pela forte
bátega de água. A muito custo conseguiu encerrar a janela, pedindo desculpa
por ter molhado um pouco os tapetes cuidadosamente limpos e tratados… A – O ladrão tinha de ser
profissional para trepar a um terceiro andar naquelas condições de tempo. B – Não houve ladrão nenhum
e tudo foi apenas uma tramóia do “Tigre da Bolsa” para poder fazer alguma
habilidade, escudando-se nos documentos que lhe teriam roubado. C – O “Tigre da Bolsa”
esqueceu-se dos documentos noutro local e não se lembrava. D – O ladrão que entrou
pela janela transportava uma capa que evitava que se molhassem os documentos
e ele mesmo. |
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© DANIEL FALCÃO |
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