Autor Data 12 de Agosto de 1992 Secção Policiário [43] Publicação Público |
O INSPECTOR FIDALGO E O MORTO ABANDONADO Luís Pessoa Domingo de manhã. Na aldeia
reinava uma certa azáfama relacionada com a cerimónia religiosa que naquela
tarde se iria realizar. De longe vieram muitos visitantes, e o inspector Fidalgo, a convite do seu amigo Vitório, por lá
estava também. Mal imaginaria que não iria poder assistir à cerimónia porque
algo de estranho aconteceu entretanto, abalando toda a comunidade, quase
abafando a cerimónia. Na realidade, um velho capitão
reformado, homem maníaco e de poucos amigos, retirado naqueles confins para
fazer um repouso total, descobriu no seu quintal, tal como afirmou, um velho
pedinte morto. Sendo conhecida a presença
do célebre inspector Fidalgo, tornado conhecido
pelas suas façanhas relatadas no jornal PÚBLICO, o pároco e o presidente da
Junta pediram-lhe que averiguasse o que se tinha passado, que desse uma
olhadela. Nada contrariado, o inspector dirigiu-se à quinta, um tanto desviada das
rotas normais, onde encontrou uma grande romagem de “mirones”, comentando o
acontecido e atirando as culpas para cima do velho, manifestamente uma pessoa
bem pouco querida de todos. O inspector
deslocou-se ao local onde o corpo apareceu, felizmente não violado por
ninguém, já que o terror que o velho despertava impedia que alguém se
arriscasse dentro dos limites territoriais da mansão. O corpo jazia ainda
junto de uns arbustos, a cerca de 30 metros da casa. Não havia sinais de
arrastamento do corpo e tudo o que se observava eram as pegadas do velho
capitão, umas mais profundas, da casa até ao local onde estava o cadáver,
depois as de regresso, bem menos profundas. A explicação do velho
capitão foi simples: – Não quero saber de nada e
espero que saia rapidamente dos meus terrenos, porque eu quero é sossego. Se
não fosse procurar isso, tinha ficado na cidade… Vinha a passar, calma e
descontraidamente, quando vi que havia alguma coisa no chão. Pensei que era
algum lixo ou um animal. Quando vi que era um cadáver, tratei de voltar para
trás e fui telefonar ao presidente da Junta. O que ele fez ou não, nem quero
saber, mas que escusava de trazer para a minha porta esta cambada toda, isso
é verdade. Claro que notei que morreu com um tiro na cabeça. O inspector
olhou novamente para as pegadas e correu todas as imediações, não encontrando
nada digno de assinalar, mas… A – Foi o velho capitão que
o matou por estar ali, desferindo o tiro a sangue-frio. B – Foi o pedinte que se
suicidou, escolhendo aquele local por ser bastante ermo. C – Foi o velho capitão que
matou o mendigo noutro local e o transportou para aquele lugar. D – Foi o morto por outra
pessoa, que aproveitou o facto dele estar ali, num
sítio escondido. |
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© DANIEL FALCÃO |
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