Autor Data 16 de Agosto de 1992 Secção Policiário [47] Publicação Público |
O INSPECTOR FIDALGO E A CAÇA SUBMARINA Luís Pessoa O inspector
Fidalgo nunca alinhou muito nessas aventuras debaixo de água. Não que não
gostasse de ir até ao mar ou à piscina mandar as suas braçadas e os seus
mergulhinhos, mas ninguém o convencia a descer ao fundo do mar. Isso já era
outra história. Naquele dia, o inspector deslocou-se a um centro de pesca submarina para
investigar uma morte que por lá aconteceu e, pelo caminho, ia pensando como é
que ia descalçar a bota, como se costuma dizer, se tivesse de mergulhar para
observar o local onde, presumivelmente, teria ocorrido a morte. Esperava-o o instrutor, o
Cabral, um moço de boa compleição física, moreno, de olhos vivos, que
rapidamente pôs o inspector Fidalgo ao corrente: – Não sei o que dizer,
nunca tal aconteceu. Penso que foi um acidente estúpido, mas o Telmo, aquele
rapaz que está além, a chorar, terá disparado o arpão e atingido o Sequeira
na cabeça, matando-o de imediato… Penso que foi um acidente estúpido! – Posso falar com o Telmo?
Chame-o lá! – Telmo, o Inspector quer falar contigo… E o Telmo aproximou-se,
cabisbaixo, triste como a noite e quase incapaz de articular os seus
pensamentos. À primeira vista, não havia dúvidas de que estava abalado. Mas… – Telmo,
quero fazer-te umas perguntas… Há quanto tempo és mergulhador? – Há quase dois anos. – Então não és nenhum
inexperiente, não é verdade? – Mas o Sequeira sabia que
não podia ir para aquele lado, ele sabia muito bem… Ao disparar, nem tive
tempo de pensar no que por ali havia ou não… Sabe, há peixes perigosos, e,
por isso, assim que avistamos ali uma coisa, naquela área, disparamos. Bolas,
ainda tenho nos ouvidos o barulho da explosão do disparo, penso que nunca
mais vou poder dormir sem ter aquele barulho terrível nos ouvidos… – Mas você andava um tanto
ou quanto zangado com o Sequeira, não é verdade? – Ora, coisas relacionadas
com namoros… Ele começou a sair com a minha namorada e eu tive de me pegar
com ele… Chegámos mesmo a trocar uns tantos socos, mas nada teve a ver com
este acidente… Mas o culpado foi ele… O inspector
pensou um pouco, antes de… A – O Sequeira matou-se por
causa do que aconteceu com a namorada do Telmo. B – O Sequeira fez de
propósito, ao passar pela frente do Telmo, porque pensava que ele falharia e
podia, depois, acusá-lo de o tentar matar, mas tudo correu mal. C – O Telmo matou-o
propositadamente e desculpa-se com o acidente, mas mente no seu depoimento,
incriminando-se, ou, pelo menos, criando suspeitas. D – O Cabral está implicado
porque devia avisar o Sequeira de que não podia atravessar-se naquela zona. |
|
© DANIEL FALCÃO |
||
|
|