Autor

Luís Pessoa

 

Data

17 de Agosto de 1992

 

Secção

Policiário [48]

 

Publicação

Público

 

 

O INSPECTOR FIDALGO VISITA A EMBAIXATRIZ

Luís Pessoa

 

Nem sempre se tem a felicidade de ver reconhecido o seu trabalho e quase se tornar figura pública, a ponto de se receber um honroso convite da embaixatriz. Leitora assídua do PÚBLICO, onde sempre encontra com agrado as resoluções do inspector Fidalgo, não quis deixar de o desafiar nessa mesma festa.

Assim, como disse, simulou um roubo de uma certa importância de dentro de um cofre que estava depositado sobre a lareira.

Com o andar da investigação a brincar, parece que algo não correu como estava planeado porque, quase de seguida, a embaixatriz, meia a sorrir, meia a chorar, começou a afirmar que os bens que havia depositado sobre a lareira haviam mesmo desaparecido.

O inspector Fidalgo não sabia em que acreditar. Por um lado, sabia que ia entrar numa brincadeira inventada pela embaixatriz para entreter os seus convidados e, ao mesmo tempo, promover a sua imagem de investigador; por outro, vinha a embaixatriz dizer agora que afinal o roubo se dera.

Seria apenas mais uma brincadeira para juntar às outras que a anfitriã havia já criado?

O inspector Fidalgo começou a interrogar as pessoas que mais perto haviam estado do cofre, começando pela embaixatriz, que afirmou que tudo era a brincar, mas que agora alguém daquela sala tinha aproveitado a oportunidade e roubado o dinheiro que lá estava.

O Francis, mordomo que havia estado muito perto do cofre porque fora lá pôr bebidas, afirmou desconhecer totalmente o jogo em questão, mas, sabendo o que sabia de outras ocasiões, tudo não passaria de mais uma brincadeira da patroa. Não era para ligar.

O Nelson, um indivíduo asqueroso, explorador de mulheres e quase sempre sem dinheiro no bolso, disse que estivera lá ao pé e até estranhara ver ali o cofre que a embaixatriz costumava ter no quarto, mas quem era ele para perguntar à senhora alguma coisa sobre isso?

A D. Laurinha, uma senhora com a mania das grandezas mas que não tinha onde cair morta, segundo diziam as más línguas, mostrou-se fortemente escandalizada com toda aquela questão e com o mau gosto de andar a brincar aos detectives. Não era capaz de imaginar que por uma importância tão pequena como a que fora desviada se fizesse tão grande alarido. Meu Deus, como a D. Laurinda parecia sofrer com o que se estava a passar…

O inspector Fidalgo sorria…

 

A – O ladrão foi o mordomo porque sabia que ninguém o ia aborrecer por ser habitual a patroa fazer coisas dessas.

B – O inspector estava a ser enganado e nunca houve qualquer importância no cofre, sendo brincadeira da embaixatriz.

C – Foi o Nelson porque não podia saber o que sabe e por isso denunciou-se ao afirmar que o cofre deveria estar no quarto da embaixatriz.

D – Foi a D. Laurinha porque estava em dificuldades e não podia proferir declarações como as que proferiu.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO