Autor

Luís Pessoa

 

Data

20 de Agosto de 1992

 

Secção

Policiário [51]

 

Publicação

Público

 

 

O INSPECTOR FIDALGO E O “SETE DE ESPADAS”

Luís Pessoa

 

O inspector Fidalgo teve de ir ao Algarve tratar de uns tantos pormenores da sua vida profissional e não deixou de dar um pulinho a Monte Gordo, para abraçar o seu amigo “Sete de Espadas” e a esposa dele, “Dama de Espadas”.

Depois das tradicionais saudações e “bocas” sobre as férias de uns (do “Sete”) e trabalho bem chato de outros (do inspector Fidalgo, pois então), toca de andar para um belíssimo restaurante, una tantos quilómetros adiante, onde todo o mundo se deleitava com o melhor marisco que se podia arranjar e uns caranguejos de se lhe tirar o chapéu.

A paisagem era deslumbrante, com um mar excelente por pano de fundo, um céu avermelhado e brilhante, e um pôr de Sol espectacular.

De conversa em conversa, o inspector Fidalgo e o “Sete de Espadas” falaram do “Policiário” do PÚBLICO e da engraçada transcrição dos casos do inspector, que o “Sete” e a “Dama” acharam excelentes e capazes de entusiasmar muita gente jovem, dos dez aos cem anos, pelo menos!

Foi então que o empregado de mesa, com uma simpatia que pouco se vê no Algarve (pelo menos quando ouvem falar português), se abeirou deles e confidenciou: “O melhor que está no menu são os caranguejos, uma delícia, acabados de apanhar…”

O inspector fidalgo olhou para o seu anfitrião de ocasião e observou o sorriso aberto, um tanto disfarçado pelas barbas brancas e desconfiou…

“Em que vamos, “Sete”? Uns caranguejos?”

“Acabados de apanhar, não é verdade? Devem estar uma delícia de frescura e gosto… Sou bem capaz de alinhar nisso mesmo… Se forem frescos…”

“Foi o que o empregado disse, não foi?”

O empregado confirmou “Não têm mais de meia hora depois de apanhados. Isso eu garanto… E, já que estão aqui, reparem na maravilha que fica aquela duna quando a maré começa a descer… Reparem só que a maré está a atingir o seu máximo e dentro de uns dez minutos o espectáculo é belíssimo… Prestem atenção…”

“O inspector Fidalgo é que sabe!”, disse o “Sete”, olhando matreiramente para a “Dama de Espadas”.

“Eu… Não, não vou nos caranguejos… Talvez não sejam tão frescos como o empregado os apregoa…”

“Ó pá, aqui o que se come com garantia é uma boa caldeirada e acho que vamos mesmo nisso, não achas?”, propôs o “Sete” com visível gozo…

“É isso. Vamos numa boa caldeirada de polvo…”

 

A – Não podia ser caldeirada de polvo porque no Algarve não os há.

B – Os caranguejos não podiam ser frescos, pelo menos apanhados há meia hora como dizia o empregado.

C – O “Sete” e a “Dama de Espadas” não podiam propor uma caldeirada, porque naquele sítio não servem tal especialidade.

D – Não podia haver caranguejos, porque naquela altura, quando a maré está no máximo, os atuns chegam-se à costa e não há hipótese de os apanhar.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO