Autor

Luís Pessoa

 

Data

25 de Agosto de 1992

 

Secção

Policiário [56]

 

Publicação

Público

 

 

O INSPECTOR FIDALGO VAI A UM CONVÍVIO POLICIÁRIO

Luís Pessoa

 

Como acontecia todos os meses num passado mais ou menos recente, os convívios policiários faziam parte da vida de qualquer policiarista. E o inspector Fidalgo, sempre que podia, lá ia, estrada fora, para o Porto, Famalicão, Aveiro, Figueira da Foz, Coimbra, Viseu, Torres Vedras, Santarém, Lisboa, Almada, Évora, Portimão, etc… E em todos revia amigos e conhecidos novos.

O inspector Fidalgo interrogava-se como tinha sido possível perder o rumo de todos esses convívios, tendo muitos desaparecido e outros… lá iam subsistindo à custa de muita carolice.

– Não será verdade que o PÚBLICO Policiário pode dar uma boa ajuda, promovendo esses mesmos convívios?

O inspector Fidalgo imaginava-se no centro de um convívio, algures neste país, promovido e publicitado pelo PÚBLICO Policiário, onde compareciam dezenas de confrades, da velha e nova guarda, em são convívio, antes, durante e depois de um bom almoço. Falava-se de policiário, de projectos, de torneios, desta ou daquela questão que levantou dúvidas, todos falavam com todos…

E chegava o momento dos digestivos, testes e problemas policiários para todos em conjunto, mas cada um por si, claro está, resolverem. E o problema policiário rezava assim:

“Um qualquer tipo estava sentado a uma secretária, com as costas voltadas para a porta, quando ouviu um ruído atrás de si. A princípio não ligou, tal a atenção com que estava no seu trabalho, mas, perante a insistência, voltou a cabeça, dando de caras com um índio, impecavelmente vestido, a que não faltava sequer uma fita na cabeça onde se prendiam duas penas…

Foi um choque terrível… Seria possível que aquela personagem tivesse saído da história que estava a escrever? Foi então que se ouviu um grito… a que se seguiu um imenso silêncio…

Só no dia seguinte se descobriu o corpo do pobre escritor, com uma faca espetada em pleno peito… Havia pegadas no chão, (porque lá fora chovia) até à porta… Sim, eram sapatos índios, vulgo “mocassins”. A certeza da sua pontaria não determinou que tivesse de se ir certificar da morte da sua vítima… Não havia dúvidas, atirara a faca com pontaria certeira…”

O “Sete de Espadas”, o “Jartur”, “O Gráfico”, o “Detective Invisível” e o “Detective Misterioso” (infelizmente já falecido, quando se preparava para se deslocar para um convívio – a nossa homenagem!) riram-se de imediato, perante a perplexidade de alguns, sendo acompanhados por muitos outros, “Mycroft Holmes”, “Mota Curto”, “Henry”, “Ric Hochet”, “Donald Lam”, “Livau”, “Becas”, “Ubro Hmet”, “Delgas”, “Pal”, “M. Lima”, “Xek-Brit” e tantos outros que a memória atraiçoa… É que havia um erro terrível no problema.

 

A – Um índio nunca podia aparecer assim, nem que se tratasse de um sonho.

B – Nenhum índio atira a sua faca, antes a iria espetar directamente no corpo da vítima.

C – Os sapatos de um índio nunca deixariam marcas no chão, porque os índios têm truques para nunca deixar pegadas, mesmo que passem por cima de lama ou chuva.

D – Uma faca atirada daquela maneira nunca poderia provocar a morte da forma que o fez.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO