Autor

Luís Pessoa

 

Data

17 de Janeiro de 1993

 

Secção

Policiário [81]

 

Competição

Torneio Rápidas Policiárias

Prova nº 1 – Problema nº 1

 

Publicação

Público

 

 

O INSPECTOR FIDALGO DESVENDA O CRIME…

Luís Pessoa

 

Estava um daqueles dias aborrecidos, pastosos, complicados, em que nada apetece fazer. O céu estava bem carregado e havia tempestade no ar. O Inspector Fidalgo detestava esses dias. Por sua vontade deitava-se a dormir, numa inconsciência total, alheado de tudo e de todos… Só que o crime espreita em cada esquina e foi assim que lhe comunicaram que o famoso financeiro Antero Bilardo aparecera morto, em sua casa, em circunstâncias bastante estranhas. Crime, ao que tudo indicava, mas tornava-se necessária a sua presença, por via das dúvidas…

A casa era verdadeiramente espantosa e a sobriedade misturada com um requinte exótico transformava aquele ambiente num misterioso quadro digno das mil e uma noites. O frio intenso que se fazia sentir no interior do escritório contrastava com o calor abafado e doentio que andava à solta nas ruas. No chão, bem perto da janela escancarada, jazia o corpo da vítima, deitado de costas, com os olhos azuis fitando o branco do teto. No peito, lá estava a marca produzida pela arma da morte, um punhal de cabo prateado, que estava abandonado no outro extremo do compartimento.

O inspetor olhou para os presentes, aguardando algum sinal que o pusesse na rota certa. E ouviu:

– Senhor inspetor, eu sou o primo do Antero, chamo-me Afonso e tenho alguma coisa a contar-lhe, mas gostaria que fosse em privado…

Retiraram-se para um canto…

– Eu fui o primeiro a chegar ao escritório, onde ia falar com o meu primo de uns projetos de negócio em que ando embrenhado… Ia pedir-lhe uma opinião e também, porque não confessá-lo, um financiamento! Só que não tive tempo… Ao chegar, ele já estava morto… O assassino deve ter entrado pela janela e matou-o. O que ele não sabe é que o meu primo deixou um sinal…

– Um sinal? Que sinal? Não notei nada de especial…

– Claro que não porque eu apaguei-o para não espantar o assassino… Sabe, o meu primo tem sempre a mania de estar com a janela aberta de par em par e, como é um andar térreo, sujeitava-se ao que aconteceu… Mas o que o assassino não sabe é que ele não morreu logo… Viu onde estava o punhal? O meu primo arrastou-se até junto da janela e escreveu no embaciado do vidro o nome do criminoso…

– Estranha história…

– Eu sei, mas é a verdade. Está aqui a prova, nesta máquina fotográfica com que fotografei o vidro embaciado e o nome do criminoso…

– Vejo que já revelou o rolo…

– Sim, é verdade… Leia só…

– ADRIANO… Quem é o Adriano?

– É o secretário do meu primo… Ou melhor, era.

O Adriano metia os pés pelas mãos, não sabia o que tinha feito em determinadas horas, não sabia dizer a que horas tinha estado pela última vez com a vítima, mostrava-se, em suma, baralhado e assustado.

– Senhor inspetor, não sei de nada… Eu não tinha nada a ganhar com a morte do meu patrão… Nada! Não me lembro das horas porque aqui perdemos a noção do tempo, não temos horários a cumprir, nada!... Sim, é verdade, que o patrão estava sempre com a janela escancarada e hoje mesmo, de manhãzinha, quando vim do mercado, notei a janela aberta e vi o vulto do patrão a trabalhar…

Também o Silveira, o carteiro, confirmou que pelas 9 horas da manhã, quando passou, ele estava vivo e bem vivo, porque lhe entregou a correspondência em mão, pela janela, tendo estado até um pouco à conversa.

O resultado laboratorial apontou a hora da morte para as 11 horas e o Inspetor Fidalgo meditava…

 

A – O assassino foi o carteiro, talvez farto de entregar a correspondência numa casa tão isolada.

B – O assassino foi o Afonso porque inventou toda a história e simulou o sinal no embaciado do vidro.

C – O assassino foi o Adriano, denunciado a tempo pelo patrão ao escrever o seu nome no embaciado do vidro.

D – Não houve crime, mas apenas e só suicídio, talvez por estar farto da vida de escravo que levava ou por os negócios não estarem tão bem como desejaria.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO