Autor Data 24 de Janeiro de 1993 Secção Policiário [82] Competição Prova nº 1 – Problema nº 2 Publicação Público |
O INSPECTOR FIDALGO E O JOGO DE BASQUETEBOL!... Luís Pessoa Era um dia como outro
qualquer, com sol e calor, mas, para o inspector
Fidalgo, havia alguma coisa de diferente no ar. Era o grande dia do seu
sobrinho, um rapagão de quase dois metros de altura, que jogava aí mesmo… Nas
alturas! Naquela terra pequena, o clube de basquetebol era uma espécie de
instituição, fazendo convergir ao pavilhão verdadeiras multidões, tendo em
consideração, naturalmente, a dimensão da terra. E era o grande dia porque o
jogo que iam disputar teria honras de transmissão pela televisão, em directo! Daí a grande azáfama e o grande nervoso que a
todos atacava, desde os jogadores aos técnicos e público em geral. O puto, o
sobrinho do inspector, era dos principais
influenciados, negativamente, claro, e era mais do que usual falhar
rotundamente nos momentos mais cruciais de cada jogo ou competição. No fundo,
talvez ninguém acreditasse nele como jogador de futuro, ainda que todos lhe
reconhecessem valor de sobra para estar num bom clube… A cabeça… À frente da televisão, o inspector Fidalgo ia delirando com os principais lances
e, embora achasse que o sobrinho não estava brilhante, longe disso, a verdade
é que também não estava desastrado de todo! Mas a carga psicológica foi
fazendo das suas e, a pouco e pouco, a sua equipa
estava a perder o avanço que fora angariando. E foi quase sem surpresa para
ninguém que, a cinco segundos do final, a equipa do seu sobrinho perdia por
três pontos, tornando quase impossível a recuperação. Cinco segundos para
terminar, o sobrinho com a bola nas mãos e… Um
enorme estrondo desvia a atenção do inspector do
seu receptor, correndo em direcção
à janela, a tempo de observar que um tipo qualquer está a tentar assaltar uma
senhora, tendo disparado para o ar, na tentativa de assustar as pessoas que
se juntaram… O inspector
sabe como agir nestas circunstâncias e uma meia hora depois tudo estava
arrumado e resolvido, com o meliante preso e o conflito sanado… Mas o Inspector Fidalgo ficou sem o fim do jogo, mais do que
previsivelmente ganho pelos adversários do seu sobrinho. Foi então que o telefone
soou e, do outro lado, uma voz eufórica anunciava o impossível… – Ganhámos, tio… Viu o
jogo? Viu bem a minha jogada final… – Não pude ver, pá, estive
ocupado… Conta lá o que aconteceu nos cinco segundos finais, que foi o que
não consegui ver… – Ora, tio, foram todos
meus… Ninguém pôs a mão na bola, nem da minha equipa nem dos outros, apenas
houve um jogador a tocar na bola: EU! Estás a ouvir, tio, foi a minha
noite!... – A quantos pontos estavam
do adversário? – Estávamos a três pontos
deles e sem que mais ninguém tocasse na bola, estás a ouvir, sem que mais
nenhum jogador pusesse um só dedo na bola… Este menino, zás, virou o resultado
e ganhámos por um ponto!... – Mas…
Estás a brincar comigo… Como é que podias fazer… – Desculpa, tio, mas não
posso estar com mais explicações; telefonei-te porque sempre me deste o teu
apoio, mesmo quando eu falhava totalmente… Agora, neste momento de euforia,
vou sair com a Sandrinha… Sabes, a moça de quem sempre gostei e que não me
passava cartão… Não há dúvidas, triunfar é meio caminho para outras vitórias…
Estás a entender… Adeus tio… – Mas…
Adeus… O inspector
estava siderado… O puto estava, certamente a “pintar”, mas para quê? Para
enganar quem? A – O puto “pintou” a
história ao saber que o tio não vira o jogo até ao fim, porque a jogada que
afirma ter executado não era possível. B – Pode ter executado a
jogada, mas nunca somaria os pontos suficientes para ganhar a partida. C – Pode ter executado a
jogada e ganho o jogo, porque isso era possível e viável. D – Mentiu descaradamente,
porque em cinco segundos não se pode anular três pontos de diferença,
ganhando a partida sem prolongamento, sem que a bola passe pelo menos pelas
mãos de um adversário. |
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© DANIEL FALCÃO |
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