Autor Data 31 de Janeiro de 1993 Secção Policiário [83] Competição Prova nº 1 – Problema nº 3 Publicação Público |
FIDALGO E A MORTE DA “TIA” GILDA!... Luís Pessoa Um pouco como em todas as
terras deste país, o feriado municipal é pretexto para festas e arraiais,
folias quase sem limite. Assim acontecia, também, naquela vila isolada do
resto do mundo, onde o progresso ia aparecendo sob a forma de agências
bancárias. Contavam-se já por uma meia dúzia e até caixas automáticas por lá
havia!... Mas a história que trouxe o
Inspector Fidalgo a tão desviado local não tinha
que ver com bailes e festas, mas com o assassinato da “tia” Gilda, a mais
idosa mulher da terra, uma situação que ninguém conseguia explicar sem
abordar a sua forte aversão a bancos ou fortes, constando que tinha uma
fortuna apreciável debaixo do colchão, ou dentro dele, ou coisa que o valha.
Para já, tudo não passava de conjecturas que, ao
que se sabia, nunca ninguém tivera hipóteses sequer de espreitar essa fortuna
lendária. Calculada a hora da morte
da velha senhora, iniciou-se o trabalho moroso e monótono de estabelecer quem
poderia ter oportunidade e tempo para executar o crime. De ilibação em ilibação,
porque muitas pessoas estavam, naturalmente, em bailes e manifestações colectivas, excluindo-se, o círculo de possíveis
assassinos foi-se fechando em torno de duas personagens, aparentemente sem
qualquer relação entre si, afastando hipóteses de cumplicidade… O João Costa, um dos mais
ricos da terra, construtor, gabarola, exibindo um riso trocista e altaneiro,
sempre que havia a carteira, recheada de cartões de crédito, de multibanco,
de tudo quanto era banco conhecido por esses lados. – Dinheiro? Não uso!... Nas
cidades as pessoas com posses não usam dinheiro… É cartão para cá, cartão
para lá e assim se fazem negócios, compras, vendas… O José Silva era um tipo
pouco escrupuloso, sempre metido em negócios pouco claros, de que se saía,
surpreendentemente bem. Gastador por excelência, consumia quase sempre mais
que o que conseguia realizar e por isso era quase um cavaleiro-andante,
fugindo de credores, no seu carro desportivo e potente, quase sempre nos
limites. – O dinheiro foi feito para
ser gasto e é isso que eu faço sempre que me chega às mãos… Tenho negócios… O Inspector
Fidalgo ouviu os relatórios dos seus agentes quanto aos interrogatórios das
pessoas da terra e chegou à conclusão que a solução passava pelos dois
principais suspeitos, pelo que resolveu ouvi-los, em separado… – Claro que não tenho nada
a ver com a morte dessa mulher… Era só o que faltava, eu, o tipo mais rico da
terra a envolver-me numa morte por causa de dinheiro, ao que consta parece
que a mulher tinha dinheiro em casa… Sim, é verdade que fechei um negócio em
plena festa, mas isso não prova… Onde fui arranjar o dinheiro? Ora, dei uma
saltada ao Caixa Automático do Multibanco, porque o
tipo queria o dinheiro a contado… Sim, foram cem contos… Não podia perder o
negócio e como nunca ando com muito dinheiro… Não, não guardei qualquer
talão… Nem me lembro, sequer, se a máquina me deu qualquer talão… Às vezes
não têm papel… – Sim, chamo-me José e não
sei porque me quer falar… Dizem-me que a mulher foi morta por volta das 16
horas, mas a essa hora eu estava em S. João, uma vilória a pouco mais de
vinte quilómetros daqui… Olhe, tenho aqui o talão de pagamento da gasolina na
bomba que está à saída para cá… Veja… 16h15. Sabe, eu vinha para a festa e
estava a contar com um negócio que não pude fazer, de maneira que tive de ir
ao banco lá em S. João, onde quase não demorei tempo nenhum, depois foi só
meter a gasolina e vir para cá… Como pode ver, não podia ter feito nada… Ah!
Por acaso até pedi um extracto no banco, que devo
ter por aqui… Deixe ver… Sim, aqui está. Um bocado amarrotado, mas… Vê, cá está o meu levantamento de vinte contos… O Inspector
Fidalgo olhava fixamente um ponto longínquo, lá no horizonte… A – Foi o José porque nunca
poderia ter levantado o dinheiro no Banco por ser feriado. B – Foi o João porque nunca
poderia ter levantado aquele dinheiro num Caixa Automático da rede
Multibanco. C – Foi o João que não pode
exibir recibos do Caixa Automático porque não fez qualquer operação, tendo
inventado uma má desculpa por nunca ter pensado que o apanhassem. D – Foi o José porque não
tinha qualquer hipótese de levantar vinte contos ao balcão do Banco, nas
condições que refere. |
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© DANIEL FALCÃO |
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