Autor

Luís Pessoa

 

Data

7 de Fevereiro de 1993

 

Secção

Policiário [84]

 

Competição

Torneio Rápidas Policiárias

Prova nº 2 – Problema nº 1

 

Publicação

Público

 

 

O INSPECTOR FIDALGO E O TEJO!...

Luís Pessoa

 

Naquele dia de puro Inverno, o inspector Fidalgo brincava com um colar de “clips” que se entretivera a encadear diligentemente, como fazia muitas das vezes em que estava aborrecido. Há vários dias que não tinha nada que fazer, parecendo que, subitamente, todos os criminosos da cidade se tinham reformado.

Desesperou de nada fazer e pegou, com enfado, no número desse dia do PÚBLICO.

– Bolas, nem no PÚBLICO vem nada de jeito… Definitivamente, nada aconteceu de relevante… Bolas!...

Foi então que uma pequena notícia lhe atraiu a atenção. Algures nas Avenidas Novas, uma velha senhora, viúva e só, aparecera morta na madrugada, em condições pouco claras.

Sem nada para fazer, o inspector Fidalgo vestiu o impermeável, colocou o chapéu e lançou-se para a invernia…

Não ficava muito distante e decidiu ir a pé, apesar da chuva que insistia em cair com intensidade. A casa era velha, tão velha como a vítima, como lhe contaram as vizinhas, ainda eufóricas com o acontecido…

– Era de esperar…

– Estava mesmo a pedi-las… Eu bem a avisei uma série de vezes, mas

O inspector meteu-se na conversa…

– Avisaram-na de quê?

– Ora, que a sua mania de andar sempre a dar comida a cães e gatos vadios ia dar maus resultados…

– O que é que a sua morte tem a ver com isso?

– Sei lá!... O que sei é que ela já foi ameaçada uma data de vezes por vizinhos aqui, por causa do cheiro e do barulho que os cães fazem de noite…

– Não é razão para se matar…

– Isso já não sei, agora que ali o sr. Filipe e o Ambrósio se fartaram de ameaçar, isso é verdade.

O inspector foi falar com o Filipe…

– Esta gente é doida… Alguma vez eu era capaz de matar uma pessoa por causa de barulho ou de animais… Francamente, o que aconteceu deve ter sido ela que se desequilibrou e caiu pelas escadas abaixo… Não consigo imaginar de outra forma… Sim, é verdade que ameacei e muitas vezes quase perdi a paciência, mas daí a tentar matar…

– Não ouviu nada de anormal?

– De que género?

– Sei lá, gritos, latidos, sei lá…

– Bem, os cães que ela tinha em casa fartaram-se de ladrar, mas faziam isso todas as noites… Não foi muito diferente…

– O que é que tem na perna?

– Eu… Bem, eu fui mordido por um desses rafeiros, mas não foi agora, já foi ontem… Não fui ao médico, fiz eu o curativo… Foi o cão castanho, a que ela chamava Tejo…

Na verdade, como contaram as vizinhas, o cão fartou-se de lhe ladrar quando o levaram, quase arrastando o homem que o conduzia pela trela. Mas logo concluíram que o cão ladrava assim a quase toda a gente, só respeitava a velha e até já evitara uma vez que ela fosse assaltada.

Estava o inspector a passarinhar pela casa quando uma das alcoviteiras o foi chamar:

– Está a chegar o Ambrósio…

O inspector mediu o homem e perante a sua surpresa, pelo menos aparente, perguntou-lhe o que fizera durante a noite…

– Ora essa? Quem é você? O que é que tem com isso?

A atitude mudou quando o inspector se identificou.

– Desculpe, não sabia… Eu sou vigilante nocturno. Tenho aquela viatura distribuída pela empresa, tenho uma série de firmas para visitar durante a noite… Compreende, tenho de fazer a minha ronda… Mas não percebo por que me está a perguntar essas coisas. Aconteceu alguma coisa à minha mulher? Assaltaram-me a casa? Que se passa?

– Tenha calma… Estou a tentar estabelecer alguma relação entre você e a sua vizinha dos cães…

– O raio da mulher fez queixa de mim, não foi? Pois claro que tinha de ser… Então não é que o raio de um cão que ela lá tem me tentou atacar ontem, quando saí para a ronda…

– O Tejo…

– Sim, é o maldito Tejo… Claro que lhe mandei um valente pontapé, mas o “gajo” é forte como o raio e vi-me às aranhas… Mandei umas “bocas”, mas longe de mim fazer mal à velha… Que diabo, eu também sou uma espécie de agente da autoridade, de certa forma, compreende… Já se adivinhava que um dia ia haver problemas… As escadas não eram para brincadeiras… Mas, enfim, coisas que acontecem…

O Tejo não ia ver mais a sua “dona”, nem teria que se preocupar mais com a sua segurança…

 

A – O responsável foi o Ambrósio, que mentiu descaradamente porque não deu nenhum pontapé no Tejo, senão tinha de ter marcas de mordeduras.

B – O culpado foi o Filipe, e por isso é que o cão lhe deu a mordidela na perna.

C – O culpado foi o Ambrósio, que não deve ter feito só a ronda, nessa noite, pelas declarações que produziu.

D – O responsável foi o Filipe que não deve ter sido tão “santinho” como pretende parecer, pelas declarações que fez.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO