Autor Data 20 de Junho de 1993 Secção Policiário [103] Competição Prova nº 3 – Problema nº 2 Publicação Público |
O INSPECTOR FIDALGO NA PRAIA Luís Pessoa Decorria o ano de 1990, o
Verão espreitava no calendário e em Lisboa festejava-se o dia da cidade, com
romarias, arcos e balões, desfiles e sardinha assada. Quem não entrava nesses
festejos aproveitava o dia ensolarado para um salto à praia, nos areais ainda
mais ou menos limpos da Costa da Caparica. Era o que acontecia com o inspector Fidalgo, pouco dado a folguedos, ainda que não
desprezasse, de quando em vez, uma boa farra ou
petisco bem regado… Depois de um bom mergulho e
alguns minutos de natação, a sua atenção foi atraída por uma violenta
discussão em pleno areal, entre um cabo-de-mar e um vendedor de bebidas,
gelados e afins. Saído da água, o seu
espírito científico, curioso, impeliu-o para o centro das atenções, tendo
oportunidade de ouvir: CABO: “Eu já lhe disse que
não admito que venda neste local. Para isso tem de ter uma licença especial
concedida pela Capitania, porque tudo quanto é areal pertence à Capitania
regular e fiscalizar. Mais nada!” VENDEDOR: “Mas eu tenho
licença! Tirei-a na semana passada, como pode ver. Olhe aqui!... Claro que
não é passada pela Capitania, mas pode ver que não um bandido nem um
clandestino…” CABO: “Essa licença está
passada pela Câmara Municipal… Tudo bem com eles, mas eu tenho ordens de só
deixar vender quem estiver autorizado pela Capitania. Se está bem ou não,
isso não sei dizer…” VENDEDOR: “Ora abóbora! Vai
um gajo à Câmara, gasta dinheiro para comprar este
papel selado, paga emolumentos e taxas e mais eu sei lá o quê, para eles aqui
porem, preto, pretinho, que eu, fulano de tal, estou autorizado a vender no
areal da Caparica… Vejam, vejam bem… – e exibia uma folha de papel selado,
autenticada pela Câmara Municipal, datada de 6 de Junho, que lhe dava
autorização para vender no areal, sem limitações, os produtos que ele estava
vendendo. – Como é que é? Ó sr. Cabo, eu não sou
nenhum meliante, tento trabalhar honradamente e o senhor está a dar-me cabo
da vida. Por favor, prometo que amanhã mesmo vou à Capitania pedir mais essa
autorização… Prometo…” CABO: (perante as
manifestações hostis dos presentes, que iam gritando que ele estava a impedir
o pobre homem de vender honradamente e que se calhar queria era que o
desgraçado fosse roubar…) “Está bem, está bem, mas eu estou de olho em si… Se
o volto a ver aqui sem estar autorizado, garanto que não fica assim… Por esta
passa, mas tem de agradecer a estas pessoas, que senão…” O Inspector
esperou que todos fossem dispersando e dirigiu-se ao cabo-do-mar:
“Sr. Cabo, não sei se é mesmo obrigatória essa licença ou se estava só a
ameaçar o homem, mas acho que fez mal em deixá-lo ir embora assim, sem mais
nem menos, porque…” A – O documento que o homem
mostrou era falso; B – O documento podia ser
verdadeiro, mas não poderia ter aquela data; C – O documento tinha de
ser falso e não podia ter aquela data; D – O documento podia ser
verdadeiro, mas o homem não pediu a identificação do homem, pelo que podia
ser de outra pessoa. |
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© DANIEL FALCÃO |
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