Autor Data 4 de Julho de 1993 Secção Policiário [105] Competição Prova nº 4 – Problema nº 1 Publicação Público |
O INSPECTOR FIDALGO AO LUAR DO VERÃO… Luís Pessoa O Inspector
Fidalgo nem queria acreditar no que lhe acontecera. Na verdade nem parecia
possível que, numa noite tal bela e quente como aquela, com um luar tão
perfeito, com a lua a mostrar toda a sua plenitude, redonda e brilhante, um
qualquer topo, certamente com algum problema, viesse ter com ele, daquela
maneira, a gritar que tinha visto um lobisomem e outras coisas igualmente
incríveis. O inspector
olhou o homem com um misto de interesse e compaixão, logo se arrependendo
deste último sentimento. Na verdade, o homem parecia estar convicto de que
tudo acontecera como estava a contar… “Mas é verdade, inspector, foi hoje mesmo… Julga que sou algum lunático,
não é verdade? Pois não sou… Hoje mesmo, dia 5 de Junho deste ano de 1993,
com esta Lua Cheia que pode ver, que o lobisomem apareceu… Eu mesmo o vi!” “Enganou-se, certamente…
Deve ter imaginado”, retorquiu o inspector. “Não, não e não! Eu vi-o.
Eram mais ou menos 21h30 e a escuridão invadia já os caminhos ermos por onde
tenho de passar, para chegar à minha casa. Foi ali
mesmo, naquele sítio, escuro como breu, como pode ver, só iluminado pela luz
da Lua. Como pode ver, quando a lua se mostra, ainda se vê alguma coisa, mas
quando as nuvens a tapam…” “E o que é que aconteceu?” “Ora, aquelas nuvens
escuras encobriram a Lua e ficou tudo escuro. Foi então que me atacou… Só
tive tempo de me esquivar, julgando que era algum cão, ou coisa assim, mas
logo a seguiu a Lua descobriu a sua face redonda e pude ver claramente que
era um homem com o corpo coberto de pêlos, com
feições de lobo, horrível… Desatei a fugir e tive a sorte de estarem a chegar
outras pessoas, que espantaram o animal, ou homem, ou lá o que ele é…” “Mas ele chegou a fazer-lhe
algum mal?”, insistiu o Inspector
Fidalgo. “Não, tive muita sorte!”, respondeu o homem. Nenhum dos indivíduos que
ele apresentou como tendo chegado a tempo de o safar viu fosse o que fosse e
tudo o que sabiam era pelo que o “nosso” homem contara. O Inspector
Fidalgo sabia que não podia ser um lobisomem o que ele vira, mas queria
aprofundar se o homem estaria a mentir ou se estaria de boa-fé, enganado por
um qualquer fenómeno… E pensou… Poder-se-iam pôr as
seguintes hipóteses: A – O homem mentiu
premeditadamente, inventando uma história que nunca poderia ter-se passado
como ele conta. B – O homem mentiu sem
querer, confundido por ter visto alguma coisa que alguém, para lhe meter
medo, forjou. C – O homem não mentiu,
antes viu e sentiu tudo como indicou, embora não fosse, como é óbvio, um
lobisomem. D – O homem não mentiu e
nada impede que não haja mesmo lobisomens e que tudo seja, rigorosamente,
como descreveu. |
|
© DANIEL FALCÃO |
||
|
|