Autor

Luís Pessoa

 

Data

8 de Agosto de 1993

 

Secção

Policiário [110]

 

Competição

Torneio Rápidas Policiárias

Prova nº 5 – Problema nº 1

 

Publicação

Público

 

 

O INSPECTOR FIDALGO E O SOL DA MEIA-NOITE!...

Luís Pessoa

 

O inspector Fidalgo não andava lá muito satisfeito com o modo como decorria a sua vida profissional. Havia milhões de pequenos escolhos no caminho das suas investigações, que o punham em posição pouco agradável.

E essas coisas sabiam-se, corriam como fogo em mato seco e quase todos os seus colegas o olhavam de lado, com sorrisos trocistas, principalmente por descobrirem uma brecha, finalmente, na aparente infalibilidade de que gozava a fama. Precisava, com urgência, de dar um pontapé na “desgraça” resolvendo um caso…

Quase todos o aborreciam, tantas eram as vezes que percorrera as páginas dos processos, sem nada encontrar de novo, de substancial, que o ajudasse a recuperar a confiança…

Foi então que deparou com um processo novo ou, pelo menos, que não via há muito tempo e que, em boa verdade, não lhe dizia absolutamente nada. Percorreu-o com o olhar interessado e notou que se tratava de um caso passado no Egipto, que metia um português traficante que acabou por ser preso ao entrar no nosso país por ser portador de algumas relíquias e objectos arqueológicos de grande valor para coleccionadores.

Todo o processo estava muito bem documentado, com vastos elementos colhidos pela polícia egípcia, com fotografias do traficante nos mais diversos locais, desde o Cairo até junto das pirâmides, em todos os cantos por onde andou, quase sempre na companhia de indivíduos conotados pelas autoridades como traficantes, em amenas conversas, quer debaixo de sol, quer em esplanadas sombrias, em cima de camelo ou dentro de modernas viaturas…

Mas a mais espectacular era uma fotografia que estava logo a seguir à de um encontro com uma bela moça, ao sol da meia-noite, quem sabe se a tratar de negócios ou de amores, que exibia – a tal foto mais espectacular – a transacção de alguns objectos dos que lhe foram apreendidos no aeroporto, sem qualquer dúvida, figurando como intermediário o Januário, um colega do inspector Fidalgo, que trabalhava num outro sector e por quem nutria uma antipatia crónica!

– O Januário! Feito com o traficante!...

O inspector Fidalgo pôs-se de pé num salto, agarrando o maço de fotografias do processo e saiu apressadamente para a secretária do Januário, com cara de poucos amigos…

Pelo caminho foi pensando na situação em que estava metido e no procedimento a adoptar. Aparentemente, ninguém reparara que era o Januário ou o reconhecera, mas ele dera por ele e não se sentia nada feliz por isso…

Passou de novo os olhos pela fotografia e viu o rosto cínico do Januário, sorridente, dando uma palmada nas costas do traficante, com cara de poucos amigos, perante o olhar matreiro do outro tipo, o vendedor dos objectos.

O inspector Fidalgo não pôde deixar de sorrir quando abordou o Januário, que denotava indiferença…

– Não, pá, nunca me enganaste! Porque

 

A – Porque a sua antipatia era demonstrativa de que havia negócios escuros;

B – Porque o Januário foi vítima de uma armadilha que lhe foi montada e de nada devia saber;

C – Porque o Januário agiu premeditadamente para enganar o inspector Fidalgo;

D – Porque o Januário não podia estar no Egipto naquela altura.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO